in o Observador
O PIB português caiu 2,4% no primeiro trimestre face ao mesmo período de 2019. Mas a queda face ao trimestre anterior, de 3,9%, é a maior verificada desde 1977, diz a Universidade Católica.
A contração da atividade económica reflete o impacto da pandemia Covid-19 que já se fez sentir significativamente no último mês do trimestre", pode ler-se numa estimativa rápida
O Produto Interno Bruto (PIB) português caiu 2,4% no primeiro trimestre do ano face ao mesmo período de 2019, devido aos efeitos económicos da pandemia de Covid-19, divulgou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
“O Produto Interno Bruto (PIB), em termos homólogos, diminuiu 2,4% em volume no 1.º trimestre de 2020, após o aumento de 2,2% no trimestre anterior. A contração da atividade económica reflete o impacto da pandemia Covid-19 que já se fez sentir significativamente no último mês do trimestre”, pode ler-se numa estimativa rápida esta sexta-feira divulgada pelo INE.
Já relativamente ao último trimestre de 2019, a recessão foi de 3,9%, depois de um aumento de 0,7% em cadeia face ao terceiro trimestre de 2019. De acordo com uma nota da Universidade Católica, esta é a maior queda em cadeia verificada desde 1977. “É um resultado sem precedentes, apesar do confinamento só ter influenciado negativamente a atividade económica durante parte do mês de março”, assinala o NECEP, núcleo de previsões económicas da Universidade Católica.
De acordo com o núcleo, a contração das exportações de 7,3% em cadeia representa “um registo próximo do observado aquando o colapso do comércio internacional na transição de 2008 para 2009”.
“Mas, desta vez, a desaceleração em cadeia de 11,4 pontos percentuais, relembrando que as exportações tinham crescido 4,1% no 4.º trimestre de 2019, é totalmente extraordinária e muito superior ao observado no final de 2008”, notam os economistas da Universidade Católica.
Observando que “a procura interna recuou apenas 1,9%”, o NECEP conclui que “o choque inicial da pandemia da covid-19 foi assimétrico na sua propagação aos vários agregados, penalizando mais as exportações do que o consumo privado ou mesmo o investimento”.
“Aliás, as importações recuaram bem menos (2,9%) do que as exportações. Em todo o caso, o destaque do INE refere que, quer o consumo privado, quer o investimento, recuaram no 1.º trimestre”, assinala o NECEP. O núcleo indica ainda que “tudo indica que as contrações de atividade económica serão ainda mais fortes no 2.º trimestre na generalidade das economias e, em particular, em Portugal e na zona euro como um todo”.
Finanças destacam queda abaixo da verificada na zona euro
Já o Ministério das Finanças sublinha que esta queda aconteceu depois de 23 trimestres consecutivos de crescimento e que é mais baixa do que a registada na Zona Euro que foi de 3,2%, destacando as performances mais negativas de Espanha (-4,1%), França (-5.4%) e Itália (-4,8%). Ora estes países são grandes clientes das exportações nacionais cuja quebra, de 12% em março, muito contribuiu para esta performance.
As Finanças assinalam que esta inversão acontece exclusivamente por causa do impacto da pandemia na atividade económica de março, porque “os dados até fevereiro indicavam a continuação do bom desempenho que se verificou no final de 2019”.
Em comunicado, o Ministério das Finanças diz ainda que evolução do PIB no primeiro trimestre está totalmente alinhada com as estimativas para a atividade setorial apresentadas no Programa de Estabilidade. A severidade da quebra da economia está bem espelhada no impacto que as três últimas semanas de março tiveram na evolução do PIB no primeiro trimestre.
Segundo o INE, o diferencial entre exportações e importações “é sobretudo consequência da contração da atividade turística na evolução das exportações de serviços”. Já a procura interna diminuiu 1,0 pontos percentuais, algo que acontece “pela primeira vez desde o 3.º trimestre de 2013, associada à diminuição do consumo privado e do investimento”.
Quanto à quebra de 3,9% relativamente ao último trimestre de 2019 (em cadeia), o INE assinala que os números se devem à quebra da procura externa líquida, que foi de -2 pontos percentuais, após ter sido positiva no trimestre anterior, e da procura interna (-1,9 pontos percentuais) que foi mais negativa que no trimestre anterior (-0,7 pontos percentuais).
Comparativamente com o trimestre anterior, as exportações totais diminuíram 7,3% em termos reais (taxa de 4,1% no trimestre anterior), enquanto a variação em cadeia das importações totais foi -2,9% em volume no 1º trimestre (taxa de 0,7% no 4º trimestre)”, assinala o INE.
O instituto recorda que “com a passagem a uma fase de pandemia, foram tomadas em Portugal diversas medidas de contenção à propagação da Covid-19, tendo sido anunciado o encerramento das escolas e universidades no dia 11 de março (com efeitos a partir do dia 16 de março) e decretado o estado de emergência no dia 18 de março, que ditou o encerramento temporário de várias atividades económicas e restrições à livre circulação de pessoas”, lembra o INE.
No entanto, o instituto de estatística nota que “ainda antes desta medida existiam já perturbações no funcionamento normal de algumas atividades e na procura dirigida aos seus produtos, nomeadamente na restauração e hotelaria, afetando a atividade económica desde praticamente o início do mês”.
A estimativa “incorpora revisões na informação de base utilizada nas estimativas trimestrais anteriores, nomeadamente no que se refere ao comércio internacional de bens e aos indicadores de curto prazo, que não implicaram revisões nas taxas de variação homóloga e em cadeia do PIB em volume”.
INE admite revisões mais acentuadas dos números por causa da pandemia
O INE divulga os números definitivos do PIB do primeiro trimestre dia 29 de maio, e alerta que “é possível que ocorram revisões de magnitude superior ao habitual em divulgações futuras atendendo a perturbações no processo de obtenção dos dados”, devido à pandemia de Covid-19. Também atendendo ao contexto pandémico, segundo o INE “foram utilizadas novas fontes de informação complementar”, como “a informação no âmbito do sistema eletrónico de emissão de faturas e comunicação à Autoridade Tributária (e-fatura)” e ainda “operações na rede multibanco”.
O “Grande Confinamento” levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.
Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.
Já a Comissão Europeia estima que a economia da zona euro conheça este ano uma contração recorde de 7,7% do PIB, como resultado da pandemia da Covid-19, recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3%.
Para Portugal, Bruxelas estima uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).