20.5.20

Novo surto de pobreza severa…

Albino Gonçalves, in Diário do Minho

Nesta odisseia dramática e pessimista, o mundo, sem excepção, não escapou ao descalabro económico que afectou centenas de milhares de pessoas, que devido à pandemia da “Covid-19” viram desaparecer os rendimentos indispensáveis para cobrir as necessidades básicas da vida quotidiana, na alimentação, vestuário ou alojamento, bem como despesas com os cuidados de saúde, educação, electricidade, gás, água e outros compromissos inadiáveis.
O estigma da miséria que assola os quatro cantos do planeta devido ao surgimento desta grave situação de saúde pública aumentou. A taxa de pobreza exige, sem demora, um apoio institucional completo e desburocratizado, sem barreiras que dificultem o acesso a esses instrumentos por parte das pequenas e médias empresas em desespero de tesouraria

Se antes do aparecimento do novo coronavírus, os países mais pobres já tinham um grave problema de pobreza extrema, tendo dificuldade em obter ajuda social e monetária, agora deparam-se com um cenário humano ensombrado, tenebroso e propenso ao desânimo.

Esta pandemia veio mostrar que ninguém se salva sozinho sem o Estado a desempenhar o seu dever de auxílio às populações que se deparam com dificuldades extremas de sobrevivência.
Calcula-se que esta pandemia poderá criar mais 520 milhões de pobres a viverem com rendimentos inferiores a cinco euros por dia, numa perspectiva de contracção económica com maior impacto nos países vulneráveis, destacando-se os mais frágeis situados na África subsaariana e alguns localizados no sul da Ásia.

A ONU alerta que a pobreza extrema poderá afectar mais 62 milhões de crianças a juntar aos já existentes 386 milhões em 2019, sendo este o grupo etário mais indefeso, desfavorecido e com maior propensão à letalidade por causa da mal-nutrição, patologias de alto risco, vivendo em zonas de guerra ou em campos de refugiados sem as mínimas condições humanas.

A UNESCO estima que existam quase mil milhões de pessoas em todo o mundo em pobreza severa, dependentes daquilo que a agricultura lhes der para auto-sustento.

Relativamente a Portugal, a presidente do “Banco Alimentar Contra a Fome” afirma que “nunca se viu nada assim”. Insinua que não há capacidade de apoio para o imparável crescimento de pedidos de ajuda alimentar, que surgem de cidadãos desabituados deste tipo de auxílio humanitário, mas que se veem obrigados a este recurso porque ficaram sem rendimentos para suprimir as suas necessidades económicas e sociais básicas.

É, por isso, necessário voltar a pôr a economia a funcionar, com o retorno às linhas de produção e de distribuição, preservação dos postos de trabalho, inovação nas estratégias empresariais e criação de formatos imprescindíveis de erradicação da pobreza.