in Diário de Notícias
O sociólogo António Barreto defendeu hoje que a coesão social está ameaçada, levando a "perigos sérios" que exigem a utilização das políticas sociais "possíveis" e de uma informação "permanente e honesta" dos governos e empresas.
"A coesão está ameaçada. Vemo-lo todos os dias. No desemprego, nas migrações de desespero, nas falências, no abandono e na desistência. A desigualdade, a injustiça e a pobreza podem ser sérios perigos. Tal como o desenraizamento, causa da quebra do sentimento de pertença", afirmou Barreto, também presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).
Contra esses "perigos" devem ser utilizados "todos os meios", como "as políticas sociais possíveis, a informação permanente e honesta por parte dos governos e das empresas, a capacidade de explicar as políticas e os sacrifícios, a capacidade para ouvir", defendeu.
Para António Barreto, estas práticas, tal como a vontade de diálogo com forças políticas, económicas e sociais, estão atualmente em "sério défice".
O presidente da FFMS falava no XII Encontro Nacional de Fundações, com o tema "Coesão Social", que decorre hoje em Lisboa e cuja sessão de abertura contou com a presença da presidente da Assembleia da República (AR), Assunção Esteves.
"Existe uma real dificuldade em conceber a coesão em tempos de crise, sem abdicar da diferença, dos conflitos e dos interesses contraditórios", realçou António Barreto, para quem a coesão social "é o que junta os diferentes, mantendo-os, não os eliminando".
Referindo-se à crise económica e financeira e às consequentes dificuldades das populações, defendeu que "o que os países em dificuldade pedem aos países ricos da Europa e que designam por solidariedade é uma ficção".
Para o especialista, os países menos desenvolvidos "têm de defender a lógica da coesão internacional, isto é, a solidez da União. Portugal e outros países têm de defender os seus direitos e, em nome da União, compensar o egoísmo excessivo dos países mais afortunados".
António Barreto salientou ainda que a coesão depende do sentimento de pertença e muitas das dificuldades que a Europa atravessa hoje "resultam da inexistência de sentimento de pertença europeia tão forte quanto o sentimento de pertença a um Estado nacional".
A presidente da AR referiu-se aos desafios decorrentes da evolução da sociedade nos últimos tempos, para a área social e política.
"A resposta para o Estado social no mundo em mudança exige formas integradas de Estados e de Povos, trabalho em rede das instituições, exercício ativo de boas práticas em todas as frentes", disse Assunção Esteves.
Por isso, os governos "terão de ser capazes de produzir regras de direito internacional que liguem a produção e o comércio aos direitos sociais e à sustentabilidade ambiental. Terão de pensar sub-sistemas de proteção que evitem o colapso e previnam o falhanço do sistema global. Terão de dispensar as suas políticas estéreis e fragmentadas".
Para Assunção Esteves, "a resposta para a coesão está, desde logo, em saber governar uma sociedade mundial sem centro, em substituir a centralidade perdida do poder por uma centralidade efetiva dos direitos".