13.1.14

Sobreendividamento afecta cada vez mais jovens e sobretudo solteiros

in RR

Por telefone ou através de reuniões presenciais, o gabinete de orientação de endividados do ISEG recebeu no ano passado 1.600 pedidos de ajuda. 60% dos pedidos de ajuda vêm de trabalhadores no activo.

O gabinete de orientação de endividados do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) revela que 2013 agravou bastante a situação financeira dos portugueses. João Calado, o coordenador do gabinete, sublinha que os pedidos de ajuda vêm de gente cada vez mais jovem e sobretudo daqueles que vivem sozinhos.

Por telefone ou através de reuniões presenciais, o gabinete de orientação de endividados do ISEG recebeu no ano passado 1.600 pedidos de ajuda. Mas mais do que o aumento do número de casos, o destaque vai para a gravidade dos casos. Quem pede ajuda está cada vez mais próximo da insolvência.

Segundo João Calado, “o peso das pessoas que estão divorciadas ou solteiras, mais os viúvos, já excede em percentagem os que estão casados. A medida etária ronda os 45/46 anos e há já uma grande percentagem de pessoas com idade inferior a 35 anos, portanto, jovens”.

No que diz respeito às próprias dificuldades, “o que temos constatado é que as famílias têm cada vez mais dificuldade em solver as suas dívidas, ou seja, serão mais os casos que, eventualmente, terão que ir para uma situação de insolvência”.

Ao contrário do que se poderia imaginar, 60% dos pedidos de ajuda vêm de trabalhadores no activo. Apenas 22% das pessoas que pedem ajuda estão desempregadas e 20% são pensionistas.

O grande problema, diz João Calado, é o número de créditos, que absorvem mais do que as famílias podem pagar: “Em média, as famílias apresentam um orçamento deficitário na ordem dos 258 euros por mês, ou seja, todos os meses as famílias acumulam à sua dívida inicial um valor de 258 euros.”

Embora não sejam a maioria, sublinha João Calado, “aparece com muita frequência situações em que o valor só das prestações dos créditos é superior ao rendimento”. Nuns casos “é mais de 100% e já tivemos casos em que é o dobro”, acrescenta.

O sobreendividamento não afecta só as famílias “com baixo rendimento”. “Também recebemos aqui rendimentos disponíveis que chegam aos seis mil euros. O mais elevado será próximo dos sete mil euros líquidos por mês e mesmo essas pessoas estão em dificuldades extremas para liquidar as suas dívidas”.

O responsável por este gabinete de apoio do Instituto Superior de Economia e Gestão, não tem dúvidas de que 2014 será igual ou pior que 2013, porque mesmo que se note alguma recuperação económica, a recuperação dos portugueses em dificuldades será muito mais demorada.

Também esta sexta-feira, a associação de defesa do consumidor (DECO) revelou que em 2013, abriu quatro mil processos de famílias com condições para reestruturar as suas dívidas. É a primeira vez que o ciclo de subidas no número de processos abertos é interrompido. Mas o motivo prende-se com o facto de as famílias pedirem ajuda tarde demais.

As famílias que pediram ajuda devem cerca de 60 mil euros e as pessoas que vivem sozinhas já representam quase metade dos pedidos de socorro. Reformados engrossam o bolo.