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O relatório é apresentado numa fase crucial das negociações para a agenda pós-2015 e pede que "um consenso internacional em torno da segurança social universal" seja incluído no compromisso
Cerca de 2.2 mil milhões de pessoas são pobres ou estão no limiar da pobreza, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado hoje.
O relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado em Tóquio, pede políticas mais fortes de proteção social, um regresso ao objetivo do pleno emprego e universalidade de serviços públicos básicos.
Com o título "Sustentar o Progresso Humano: reduzir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência", o estudo defende que a vulnerabilidade persistente ameaça o desenvolvimento e que esse problema precisa de ser resolvido para que o crescimento seja equitativo e sustentável.
"Há situações que exigem tratamentos desiguais para criar oportunidades iguais", explicou o diretor do gabinete que produz o relatório, Khalid Malik, à agência Lusa.
Num momento em que o desenvolvimento humano desacelera em todas as regiões do mundo, o especialista acredita que "pode ser necessário fornecer melhores recursos e serviços aos pobres, excluídos e marginalizados para melhorar as capacidades e escolhas de vida de todos."
O relatório indica que a maioria da população mundial não beneficia de proteções como pensões ou subsídios de desemprego e que estas garantias estão ao alcance de países em qualquer fase de desenvolvimento.
"Garantir benefícios de segurança social básicos aos pobres custaria menos do que 2% do PIB mundial", garante.
A organização contraria a ideia de que apenas os países ricos podem disponibilizar serviços universais, apresentando uma análise comparativa dos rendimentos individuais e os serviços prestados.
Ao lado dos suspeitos habituais, como a Dinamarca, a Noruega ou a Suécia, países como a Coreia do Sul ou a Costa Rica surgem na lista dos países que oferecem estes serviços.
Países que "começaram a implementar medidas de proteção social quando o seu PIB per capita era inferior ao da Índia ou do Paquistão", sublinha ainda o relatório.
Dos 7.2 mil milhões de pessoas que compõem a população mundial, 1.2 mil milhões vivem com menos de 1.25 dólares por dia (92 cêntimos de euro) e 1.5 mil milhões sofrem de carências de nível de vida, educação e saúde. Outras 800 mil pessoas estão no limiar de se juntarem a este grupo.
O relatório defende que existem três momentos fundamentais para contrariar esta tendência: os primeiros mil dias da vida de uma criança, a transição da escola para o mundo do trabalho e a passagem à reforma.
"As capacidades de uma pessoa são afetadas por investimentos feitos nas fases iniciais da sua vida e podem ter consequências a longo prazo", defende o documento, dando como exemplo o Equador, onde as crianças já têm uma grande desvantagem linguística aos seis anos.
"Se enfrentarmos estas vulnerabilidades, todas as pessoas poderão beneficiar do desenvolvimento, que se poderá tornar mais equitativo e sustentável", acredita a administradora do PNUD, Helen Clark.
O relatório é apresentado numa fase crucial das negociações para a agenda pós-2015 e pede que "um consenso internacional em torno da segurança social universal" seja incluído no compromisso.
O coordenador do relatório explicou à agência Lusa a importância deste ponto, dizendo que "eliminar a pobreza extrema não significa apenas chegar a zero, mas ficar lá" citando vulnerabilidades estruturais, como o facto de 80% dos idosos de todo o mundo terem proteção social deficiente.
O PNUD defende ainda um regresso às políticas de pleno emprego, dos anos 50 e 60, defendendo que os benefícios sociais de coesão e estabilidade ultrapassam os benefícios individuais.