24.7.14

Vidigueira disponível para receber ciganos

por Texto da Lusa, publicado por Lina Santos, in Diário de Notícias

O presidente da Câmara Municipal da Vidigueira afirmou hoje que o município continua disponível para encontrar uma solução para a situação da comunidade cigana local, despejada pela autarquia de um imóvel, desde que receba apoios de outras entidades.

Contactado pela agência Lusa, Manuel Narra sublinhou que os apoios "não podem ser só de palavras, mas de muito mais coisas, principalmente com a disponibilização financeira que o município não tem para integrar essas pessoas".

O Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) divulgou na sexta-feira um comunicado lamentando "alguma falta de diálogo e articulação" entre a autarquia da Vidigueira e as famílias ciganas cujas habitações foram demolidas há cerca de um mês.

No comunicado, a entidade, que também acompanha as minorias étnicas, manifesta ainda "profunda preocupação com a gestão deste processo" na Vidigueira, Alentejo, lamentando ainda a "inexistência de um plano alternativo para estes munícipes".

O jornal Público noticiou que, a 13 de junho passado, cerca de 70 pessoas que estavam alojadas no Parque Estágio, na Vidigueira, pela autarquia, abandonaram o local na sequência de uma rixa entre duas famílias.

Ainda segundo o jornal, ao regressarem, a autarquia tinha demolido as instalações sem avisar as famílias - os Azul e os Cabeça -, que acusaram a edilidade de racismo.

O presidente da autarquia, Manuel Narra, disse à Lusa que nunca foi contactado sobre o caso da comunidade cigana pelo ACIDI, a Segurança Social ou pelo Governo.

"Sempre foi a câmara a lidar com a situação, traçando um projeto de apoio que visava o seu realojamento e integração na população, mas depois dos confrontos entre as famílias [com tiros e tudo] levantou-se a questão da segurança", sustentou.

Manuel Narra rejeitou as acusações de racismo, sublinhando que a atitude da autarquia sempre foi de "discriminação pela positiva", com apoios, como alimentação, vestuário, saúde e ação social escolar.

A instalação das famílias remonta a 2012, quando a câmara os retirou de casas improvisadas de madeira e chapa, num projeto de realojamento, apoio e integração social que custou 100 mil euros por ano, segundo o autarca.

"Estiveram envolvidos técnicos que procuraram transmitir competências às famílias para futuramente serem integradas em casas do concelho e um casal chegou a atingir esse propósito, mas sofreu pressões e represálias de outra família cigana e teve de fugir", relatou o autarca.

Na sequência das desavenças ocorridas a 13 de junho, "os confrontos, com tiros, deixaram um rasto de destruição" e nessa altura o autarca decidiu demolir tudo, cumprindo uma ordem da Inspeção-Geral das Finanças, feita em 2012, por a construção estar ilegal.

"Não o fizemos antes porque o projeto de integração decorria e estávamos a pensar legalizar a situação. Depois do sucedido, e devido a questões de segurança, demolimos tudo", explicou.

O autarca disse ainda que a comunidade em causa "sempre desfrutou de todos os direitos dos carenciados do concelho, mas alguns membros eram criminosos, com processos em tribunal e até se deslocavam em carros topo de gama".

"Quando começaram aos tiros foi posta em causa a segurança da zona", disse Manuel Narra, acrescentando que depois da saída da comunidade para outras localidades, o executivo camarário tem recebido "ameaças de morte".

O autarca vincou que "o município está, e sempre esteve, disponível para encontrar uma plataforma de entendimento em que todas as entidades, que agora se manifestam, se comprometam a ser parte integrante da resolução do problema".

No entanto, o autarca não tem a certeza se a população da Vidigueira está disponível para colher novamente as famílias ciganas, embora garantido que o executivo "não lhes irá virar as costas".