Helena Norte, in Jornal de Notícias
É a segunda vez que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) avalia a qualidade de vida no Índice Vida Melhor, uma ferramenta interativa que permite ver o desempenho de 36 países em 11 dimensões. É um retrato que mostra os portugueses insatisfeitos, desconfiados e inseguros.
Em termos gerais, os homens passam mais horas no emprego e ganham mais do que as mulheres, mas elas vivem mais, têm níveis de instrução mais elevados e reportam mais satisfação com a vida.
Portugal apresenta resultados moderadamente positivos em alguns indicadores, mas na generalidade pontua abaixo da média. A OCDE reconhece os "progressos significativos" alcançados nos últimos anos e sublinha que a crise enfraqueceu o crescimento.
Apenas os húngaros se sentem pior do que nós
MEDIR A FELICIDADE não é tarefa fácil, porque implica avaliar dimensões subjetivas, como a satisfação e a vivência de experiências positivas.
Numa escala de zero a dez, os portugueses classificaram a sua satisfação geral com a vida de 5.2, bastante abaixo da média da OCDE (6.7). Em termos gerais, só os húngaros andam mais insatisfeitos com a vida do que nós. Os dinamarqueses, holandeses e suíços pontuaram acima de 7.5.
Quando questionados se experienciaram mais sentimentos positivos (alegria, repouso, realização) do que negativos (medo, preocupação, tristeza, aborrecimento), 72% dos portugueses reportaram mais sensações positivas, o que está na média.
Os islandeses, mexicanos e canadianos são quem tem mais sensações positivas.
Só 43%confiam nas instituições políticas
A confiança dos portugueses nas instituições políticas é significativamente inferior à da média dos 36 países analisados pela OCDE - 43% e 53%, respetivamente.
E isso traduz-se numa baixa participação cívica, como é evidente nas taxas de abstenção mais elevadas do que na generalidade dos outros países. Este é um dos indicadores fortemente afetados pela diferença de rendimentos: 73% dos mais ricos votam, enquanto entre os mais pobres só 63% o fazem.
Metade tem medo de andar na rua à noite
Cerca de metade (51%) dos portugueses tem medo de andar sozinho na rua à noite, o que traduz um sentimento de insegurança superior à média da OCDE (33%). No nosso país, 5,8% da população revelaram que, no último ano, foram vítimas de crimes, o que é uma média superior à verificada nos países da OCDE (4%).
Já a taxa de homicídios - considerado um indicador fiável porque é um crime geralmente reportado às autoridades - é mais baixa (1.2 por cem mil habitantes) do que na OCDE.