17.5.12

INOV Contacto Emigrar é a palavra de ordem

Por Rita Dantas Ferreira, in iOnline

Portugal tem uma das taxas de desemprego jovem mais elevadas. Estágios remunerados no estrangeiro podem ser uma solução

Recebeu a notícia de que tinha entrado no programa INOV Contacto minutos antes de entrar em directo para apresentar o noticiário da rádio onde trabalhava. Maria João Pinto, de 23 anos, não queria acreditar que finalmente ia sair da cidade onde nasceu e, melhor, de Portugal. “O programa pareceu-me interessante e uma óptima alternativa àquilo que me esperava”, explica a jornalista. Maria está entre os 250 jovens licenciados que irão realizar um estágio de seis meses em 200 empresas e instituições no estrangeiro.

Este ano, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) recebeu 5 mil candidaturas para estágios internacionais, mais 3 mil do que em 2011. A procura aumentou mas a oferta caiu para metade. A actual situação económica do país pesou na hora de participar. Os vários candidatos contactos pelo i são unânimes. “Hoje em dia ficar em Portugal é um erro.” A organização partilha da opinião, mas salienta a valorização que os empregadores atribuem às experiências profissionais no estrangeiro. Na 15.a edição, em 2010/2011, a AICEP disponibilizou 551 vagas. Em 2012 o número desceu para 250.

Quando soube que as inscrições estavam abertas, Gonçalo Teixeira, de 26 anos, não perdeu tempo. O engenheiro de redes trabalhava há três anos e meio mas o facto de não ter ido de Erasmus quando estava a estudar deixou-o sempre com o “bichinho atrás da orelha”. Entre um lugar nos quadros na empresa Novabase e um estágio de seis meses em São Francisco, nos Estados Unidos, optou pela segunda. “Temos de sair da zona de conforto até aprendermos que a zona de conforto está em todo o lado”, comenta o engenheiro que já chegou à Califórnia.

Lá Fora, Cá dentro A Hovione é uma das empresas portuguesas que vão acolher jovens portugueses nos EUA. A farmacêutica participa há 12 anos no programa INOV. Para Isabel Pina, directora de comunicação, “a própria Hovione beneficia deste período de estágio, uma vez que sempre surge uma oportunidade de continuidade de colaboração com os estagiários”. Ao longo destes anos, seis estagiários ficaram com posições permanentes dentro da empresa. No lote das grandes empresas nacionais consta também a Leadership Consulting. Para a PME, o INOV Contacto apresenta-se como uma oportunidade de reforçar as equipas de projecto nos mercados onde a empresa actua e uma excelente fonte de captação e recrutamento de talentos. Segundo os dados disponibilizados pelo director Tiago Cabral, 80% dos estagiários incorporaram os quadros da empresa no final do estágio em países como Espanha, Angola e Moçambique.

Foi precisamente na capital do país, Maputo, que Ana Costa, natural de Lisboa, acabou por ficar. Trabalhava em auditoria na Deloitte há três anos mas quando soube que um amigo estava a estagiar na China através do INOV decidiu arriscar. “Sempre foi uma ambição ir trabalhar fora, mas nunca tinha tido coragem para dar o passo”, afirmou a actual responsável financeira da Critical Software em Moçambique há mais de um ano. De quatro em quatro meses vem a Portugal matar saudades.

Os jovens quadros portugueses já estiveram em 74 países. Este ano, os EUA, Brasil e Espanha são os três destinos que vão receber mais estagiários. Com Filipe Lobo irão mais cinco embaixadores portugueses para Luanda, Angola. O consultor de recursos humanos estava satisfeito com as funções e as perspectivas de carreira. Tinha entrado há pouco tempo num novo projecto e regressado à cidade natal, o Porto. No entanto, comunicou à empresa que ia abandonar o negócio. “É uma oportunidade impar de crescimento e desenvolvimento de competências que vão muito além do âmbito profissional”, afirma Filipe, de 26 anos.

Desde o início do programa, em 1997, a AICEP recebeu 45 mil candidaturas e atribuiu 3750 estágios remunerados em 51 países dos cinco continentes. Margarida Oliveira acaba de aterrar em São Paulo, no Brasil. Com ela vão gestores, economistas, engenheiros e informáticos. Aliás, nesta edição o Brasil é dos países que vão acolher mais gente. Durante seis meses, Margarida, de 23 anos, vai trabalhar no departamento de marketing de uma empresa portuguesa de vinhos, a Mistral. A intenção é ficar e fazer os possíveis para que a empresa concretize um contrato. “Portugal há muito que deixou de ser um país de sonhos para os jovens”, critica a jovem.

Todos os participantes esperam que o estágio lhes abra portas. Maria João está a fazer por isso. A primeira reportagem publicada ficou no top 20 das mais vistas no site da Deutsche Welle.