in Diário de Notícias
O punk em Portugal está vivo, manifesta-se em diferentes tendências musicais, estéticas e sociais e a socióloga Paula Guerra vai estudá-las, nomeadamente através de biografias que contem a história do movimento e a do país.
"Queremos desvendar este mundo, estudar as diversidades sociais na base das diferentes produções musicais. Saber quem está ligado a estas realidades, quem as produz e as consome, quais os seus objetivos estéticos e políticos", descreve a professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em entrevista à Lusa.
"Keep it simple, make it fast", um lema do ideário punk, é o título do projeto de investigação da docente, recentemente aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que vai estudar o movimento punk em Portugal entre 1997 e 2015.
"O punk radica da música, mas tem a ver com a luta por determinados ideais, como uma vida mais igualitária. Importa perceber o fenómeno no seu todo, compreender as características da intervenção social de cada uma das manifestações do movimento", indica Paula Guerra.
A investigadora quer contar "histórias de vida de atores marcantes no meio e, através disso, falar da história do movimento e do próprio país".
A investigação incluirá ainda estudos de caso e a criação de "um arquivo físico e virtual de fanzines, e-zines, jornais, discos".
Admitindo existir uma "imagem muito negativa" do movimento punk na opinião pública nacional, a socióloga considera que "o preconceito e estigma radicam no profundo desconhecimento".
"Como em todos os segmentos da sociedade, existem várias formas de estar. Queremos desvendar este mundo", observa.
Paula Guerra identificou sete principais "manifestações da cena punk" em Portugal: "Existe um grupo de punk político, ou anarco-punk, muito politizado, de tendência anarquista ou antissistema" ligado a locais "como a Casa Viva, no Porto, e aos centros de cultura libertária, de Cacilhas, Almada, e Aljustrel", descreve.
Outro está ligado ao "hardcore clássico americano, que marcou muito a cena punk lisboeta dos anos 90", da qual fez parte "Hélio, dos Linda Martini" e "Joaquim Albergaria, dos PAUS", entre outros.
A isto junta-se o "hardcore metálico" com bandas atuais como os "If Lucy Fel" ou "Meneater" e o grupo "crust, de tendência mais metálica e muito politizado", com bandas por todo o país (Deskarga Etílica, na Figueira da Foz, Dokuga e Freedom, no Porto, Alien Squade, em Leiria e Simbiose, de Lisboa".
Destacam-se ainda um nicho "mais ligado ao punk rock", como os Fita-Cola, de Coimbra, ou os Tara Perdida, de Lisboa, manifestações de ska-punk e de "pop punk hardcore melódico", como os Fonzie, os Easy Way e os Aside.
"Vamos investigar o país inteiro, dentro desta lógica. Isto é o ponto de partida, não o de chegada", alerta Paula Guerra.
Quem "são as pessoas ligadas ao movimento em Portugal, por que estão nesses circuitos, quais os matizes do movimento" e qual o seu ímpeto de contestação política e social são as questões que a docente quer ver respondidas.
"Queremos fazer um mapeamento do movimento em Portugal", esclarece.