22.1.13

Portugal é dos países onde os jovens ficam até mais tarde em casa dos pais

Por Carlos Diogo Santos e Marcia Oliveira, in iOnline

Em 21 estados europeus analisados, Portugal é o quinto país onde o número de jovens a viver em casa dos pais é maior


Com a crise económica dos últimos anos, a Europa transformou-se num continente a dois tempos. Enquanto no Norte poucas foram as alterações ao estilo de vida, no Sul e no Leste as dificuldades começam a sentir-se logo no início de vida. Segundo os dados do Eurostat, em 2011 Portugal foi dos países onde mais jovens – entre os 25 e os 34 anos – residiam em casa dos pais. A contrastar com os 46,3% de cidadãos que não conseguiram a sua independência no território nacional, na Dinamarca, na Suécia e na Finlândia eram menos de 5% os que ainda estava em casa dos pais.

Portugal é o quinto país de 21 estados analisados onde o número de jovens a residir em casa dos pais é maior. É apenas ultrapassado, no Leste, pela Eslováquia, pela Roménia e pela Bulgária e no Sul pela Grécia e por Malta. Nestes países, mais de 50% dos jovens não conseguem ter casa própria. A “Der Spiegel” analisou as estatísticas europeias e concluiu que Portugal surge ao nível de países como Itália (44,7%), Roménia (42,2%), Hungria (42%), Eslovénia (44,1%) e Polónia (44,4), onde mais de 40% dos jovens ainda não conseguiram tornar-se independentes.

Estes dados não surpreendem Moisés Espírito Santo. Segundo o sociólogo, nos anos 70, os portugueses só saíam de casa com o casamento, enquanto mais de 50% dos jovens da Europa Central iam morar fora da casa dos pais com o primeiro trabalho. “Entre nós havia dificuldade cultural em aceitar ou promover a emancipação juvenil. Os jovens não sabiam viver sozinhos, nem os pais procuravam ensiná-los a ser livres e autónomos. Havia um certo infantilismo entre os jovens, um certo parasitismo, e tendência para viver à custa dos pais”, explica. Para o especialista, com a crise económica, esta tendência cultural “restaura-se, mantém-se e desenvolve-se”, mas isso não é considerado grave, nem para os jovens nem para os progenitores. “Os pais até se sentem mais confortados com a presença em casa de um filho jovem.”

Continua também a não haver alojamentos de renda para pessoas sós e livres de ambientes familiares, acessíveis a pequenos recursos, mas só, ou predominantemente, habitações familiares”, afirma o sociólogo.

É de facto nos países mais afectados pela actual crise económica que os jovens – ansiosos por sair de casa – mais dificuldades sentem. Há ainda uma outra relação feita pela “Der Spiegel”: os países predominantemente católicos revelam percentagens mais elevadas de jovens dependentes dos pais no factor habitação.

O sonho de início de vida Em países como a Finlândia (4,1%), a Suécia (4,1%) ou a Dinamarca (1,9%) esse problema não se põe, uma vez que a percentagem de jovens a viver debaixo do mesmo tecto que os pais é inferior a cinco. A Alemanha também apresenta uma percentagem relativamente baixa, só 14,7% dos jovens ainda não saíram do ninho, ainda assim mais que em França, onde a percentagem é de 11,6%.

Dos restantes países onde a crise se fez sentir, a Irlanda é o que apresenta menos jovens a viver com os pais (21,3%), ainda que os dados disponíveis sejam de 2010. Espanha e República Checa também não apresentam bons indicadores: no país vizinho são 37,8% os que ainda não conseguiram dar este passo, na República Checa são 33,3%.

O psicólogo Quintino Aires diz que a saída tardia de casa dos pais pode provocar uma “décalage terrível nas etapas da vida”, porque os jovens se tornam “extremamente imaturos”: construir um casamento, ter filhos ou até iniciar uma carreira profissional cria “dificuldades que se prolongam no tempo”. Américo Baptista concorda: “As pessoas têm acesso às responsabilidades adequadas da vida mais tarde o que não é nada benéfico”, frisa o psicólogo.

Geração Boomerang O fenómeno lembra – frisou a “Der Spiegel” – a geração boomerang nos Estados Unidos, o nome usado para os casos dos jovens com idades semelhantes que tiveram de regressar a casa dos pais por dificuldades económicas. No entanto, os especialistas lembram que há razões diferentes para a permanência em casa dos pais. Ao i, o psicólogo clínico Manuel Coutinho diz que “os filhos que estão com os pais por conformismo têm mais dificuldade em equilibrar-se sozinhos na vida” e “os filhos que são obrigados a permanecer em casa dos pais têm uma natureza diferente: a razão da permanência tem causas externas e essas pessoas logo que podem pulam para uma nova vida e acabam por se integrar”.