22.1.13

Há 4,5 milhões de pobres

Henrique Monteiro, in Expresso

Eugénio Rosa é um economista ligado à CGTP que há anos presta um serviço público. Analisa números e envia as suas análises para uma vasta lista de pessoas. As suas conclusões pessoais estão implícitas, e são discutíveis à luz das preferências políticas, mas os seus números têm-se revelado exatos e são fornecidos com contas devidamente feitas.

O último relatório deste economista prova que em Portugal 4 488 926 (quase quatro milhões e meio) de portugueses que estariam na situação de pobreza se não fossem as transferências sociais, incluindo as pensões. Os números são do INE e mostram uma realidade alarmante: quase metade do país a afundar-se. Recorde-se que o limiar de pobreza em Portugal é de 5040 euros anuais, ou seja 420 euros a 12 meses (ou, como Eugénio Rosa prefere apresentar, 360 a 14 meses).

Ainda de acordo com o INE, esta situação, que se reporta a 2011, mantém-se mais ou menos estável desde 2007. Nesse ano a percentagem de portugueses que seriam pobres sem qualquer transferência social era de 41,5%, em 2009 era de 43,4 e em 2011 de 42,5. Após as transferências, ainda assim, o número de portugueses pobres (menos de 5040 euros anuais) oscila entre os 18 e os 19 por cento (ou seja, de 1,7 a 1,8 milhões, números redondos).

Tal como Eugénio Rosa parecem-me imprescindíveis estes apoios e impossível cortá-los mais, como parece pretender o FMI ou o Governo.

Mas, e aqui afasto-me do economista, agradecendo-lhe o seu trabalho, para mim, o que estes números mostram à saciedade é que a pobreza não se combate com subsidiação, mas com criação de riqueza. Mais ou menos subsídios (a situação de 2007 para 2011 alterou-se substancialmente) não correspondem a variações sensíveis nos níveis de pobreza. O esforço tem de ser colocado do lado da criação de riqueza. E este é um ponto que muita gente de esquerda parece não entender. Porque a criação de riqueza não deve ser feita através do investimento público, como continuam a defender, apesar dos últimos 20 anos provaram o contrário, mas de investimento privado em bens transacionáveis, ou seja, vendáveis - e não autoestradas, pontes e linhas de TGV. Mas esta é outra discussão, que ficará para outro dia.