23.1.13

Crianças vendem senhas do almoço para darem dinheiro aos pais

in TVI

PCP promete levar o tema da pobreza infantil a debate no plenário da Assembleia da República

Vários representantes de organizações sociais defendem a necessidade de mais medidas de apoio às famílias além do combate ao desemprego e do aumento do salário mínimo para reduzir a pobreza infantil.

Numa audição realizada pelo grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP), sob o tema «Crise, austeridade e aumento da pobreza infantil: realidades e saídas», vários representantes da sociedade civil, entre Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), câmaras municipais, juntas de freguesia, organizações não governamentais (ONG) e associações várias debruçaram-se sobre a problemática da pobreza infantil e tentaram apontar algumas soluções.

No encontro, o líder da bancada parlamentar do PCP, Bernardino Soares, garantiu que o partido vai tentar, ainda esta semana, levar o tema da pobreza infantil a debate no plenário da Assembleia da República.

Durante a audição, a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, Ana Gonçalves pediu mais medidas de apoio às famílias, lembrando que há falta de crianças no país e que isso compromete o desenvolvimento económico de Portugal.

Ana Gonçalves defendeu alterações às taxas moderadoras, criticando que as crianças só estejam isentas até aos 12 anos, e reclamou apoios na aquisição dos manuais escolares.

Já o representante da União Distrital das IPSS de Setúbal, Florindo Paliotes, alertou que muitas instituições estão a atingir o limite e que algumas poderão mesmo entrar em processo de insolvência, o que, a acontecer, afetará valências como o apoio aos idosos ou às crianças.

Célia Portela, da comissão executiva da União de Sindicatos de Lisboa, afeta à CGTP-In, defendeu que se caminha para o empobrecimento generalizado da população e que a pobreza infantil é uma consequência.

O presidente da Junta de Freguesia da Ramada, em Odivelas, Francisco Bartolomeu, disse ter por hábito visitar as escolas e deu conta de crianças que à segunda-feira «comem tudo o que lhes aparece à frente porque o fim de semana é negro», enquanto outras vendem as senhas para conseguirem dinheiro para os pais.

Já a representante do agrupamento vertical de escolas Miradouro de Alfazina, no Monte da Caparica, Maria do Carmo Borges, afirmou que a pobreza das crianças é reflexo da pobreza das famílias, enquanto o representante da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Moura, Gabriel Ramos, alertou para a falta de técnicos e para a falta de instituições de acolhimento.

O presidente da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, lembrou que nem todos os casos de crianças em risco chegam à comissão, mas garantiu que estão em alerta e empenhados na resolução do problema.

Fernanda Mateus, da comissão política do PCP, defendeu que a pobreza infantil é a face mais grave de um problema que tem de ser travado e denunciou aquilo a que chamou de uma tentativa de catalogar as famílias com dificuldades como negligentes, esquecendo que muitas têm dicotomias diárias, em que ou optam por trabalhar ou tratar das suas crianças.

Defendeu ainda que para inverter a situação, é preciso fazer caminho de combate ao desemprego, pelo direito ao trabalho e por melhores salários.