por Pedro Rios, in RR
Quatro sócios decidiram apostar na histórica empresa de conservas. Investiram cinco milhões de euros n'A Poveira, que tem agora uma nova fábrica.
"Havia uma espada que se abatia sobre esta empresa", diz Rui Moreira, conhecido por ser presidente da Associação Comercial do Porto. Rui Moreira, o filho e dois amigos (Rui Ferreira Marques e António Cunha) juntaram-se e investiram cinco milhões de euros n'A Poveira, uma fábrica de conservas da Póvoa de Varzim criada em 1938.
A empresa tem agora uma nova fábrica, na zona industrial de Laundos, e já começou a contratar mais trabalhadores. "As épocas de crise são e devem ser vistas como também épocas de oportunidade", diz Rui Moreira à Renascença.
A Poveira estava perante uma "crise de crescimento": tinha que crescer, mas não tinha os recursos para isso, numa altura em que o crédito é magro ou inexistente.
"A empresa tinha que sair do sítio onde estava, no centro da Póvoa de Varzim, mas não tinha recursos para completar esta fábrica. Entrámos com um aumento de capital que permitiu concluir esta fábrica, mas também aumentar significativamente a produção. Sempre que uma indústria aumenta a produção – e estamos a falar em triplicar, no mínimo, provavelmente quadruplicá-la, já em 2013 – isso também exige recursos financeiros", explica.
O investimento permite manter os 140 postos de trabalho d'A Poveira e criar, no imediato, mais 20 ou 30. "Se as coisas correrem bem, até ao fim do ano estaremos provavelmente a contratar outros tantos", revela.
Porquê investir nas conservas?
"Todos os portugueses", entre os quais o Presidente da República, "andam há muito tempo a falar do cluster do mar", refere Rui Moreira. Um cluster que "é muito vasto, tem muitas valências, muitas oportunidades e alguns riscos também". Mas "há coisas que são absolutamente óbvias" e uma delas é no mercado das sardinhas - "o nome Portugal pesa positivamente".
"O cluster do mar sempre existiu em Portugal, mas foi destruído. O armamento português foi destruído por políticas incoerentes, principalmente nos anos 90. A indústria da pesca foi destruída também com as negociações com a União Europeia", reflecte.
Mas a propalada reindustrialização tem aqui terreno fértil: "Apesar de tudo, ainda temos uma posição invejável. Temos recursos, uma enorme zona económica exclusiva, uma costa com bastante peixe, gente muito interessada em investir na pesca", reflecte o novo sócio d'A Poveira.
"Temos a matéria-prima"
O sector das conservas tem outra vantagem, prossegue Rui Moreira. "Em muitos casos, na indústria, Portugal transforma, ou seja, importa, requalifica, aumenta o valor acrescentado e exporta. No caso das conservas, temos a matéria-prima, está aqui à mão."
A Poveira produz sardinha e cavala, sobretudo, mas também bacalhau enlatado (para os mercados externos). Com a nova fábrica, vai também produzir atum, o maior segmento deste mercado. "Em Portugal, na indústria de conservas de peixe, o atum representa 80%. Esta fábrica estava só nos 20%, da sardinha, da cavala e da anchova", explica o investidor.
Rui Moreira acredita que é possível aumentar as exportações d'A Poveira. "Pensar apenas no mercado português é um pouco remar contra uma maré que, infelizmente, a todos nos condiciona", justifica.
Japão, Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Áustria são mercados onde a empresa já está presente, nomeadamente através das suas marcas de topo (a Minerva, por exemplo). Em Portugal, além das suas marcas, A Poveira assegura a marca branca de conservas de peixe da cadeia Pingo Doce.