Texto de Ana Carolina Rocha, in Público on-line (P3)
Quero pensar menos na crise, nas revoltas, nas manifestações e mais nas pessoas que não desistem e insistem
Quero pensar em viver, dançar e sonhar. Se pensar em 2014, não estou a viver, estou a dramatizar.
Quero pensar que Portugal possa ser outro país. Quero pensar que possa ser um país sem meios termos, mas também sem grandes termos. Quero pensar que Portugal vai deixar de ter uma geração nem-nem: que nem trabalha porque o desemprego é um dos maiores inimigos; nem estuda porque não há esperança no futuro.
Quero pensar que antes da perspectiva da Troika está a perspectiva em Portugal, sem grandes obstinações, sem grandes obsessões injustificadas. Quero pensar menos (o que me parece inevitável) nas vergonhas do Passos Coelho. E quero pensar mais na harmoniosa frase do Papa: “Vamos lembrar que o ódio, a inveja, a soberba sujam a vida”.
Quero pensar menos na crise, nas revoltas, nas manifestações e mais nas pessoas que não desistem e insistem. E mais na criatividade daqueles que inventam e reinventam, com alma, face à crise.
Não quero ser mera espectadora de bancada, aplaudir os fracos, e sorrir para não ter que chorar.
Quero pensar no Mundial 2014, porque mais uma vez temos motivos para sorrir, e sem dúvida, que é o expoente máximo para os porteguesinhos. Quero viver com sonhos e quero dançar com música. Quero tentar dar o salto e procurar algures, que Portugal esteja à altura de ser um pequeno país europeu.
Quero perguntar que tipo de saudade deixará o ano que termina; e que tipo de emoções quero guardar. Quero pensar em viver, dançar e sonhar. Se pensar em 2014, não estou a viver, estou a dramatizar. Quero ter esperança e esperar pelo melhor, ainda certo, com algumas inquietações...
E é então que fazemos uma pausa nas nossas vidas e recuamos os 365 dias atrás, e é então que vemos como é que fomos, como nos portamos, o que vamos mudar daqui a 1 dia, como se fosse uma introspecção natural da nossa vida. E é então, numa altura em que parecemos mais selectivos com as causas que abraçamos e os valores que defendemos, e é então numa altura em que tudo se torna mais claro, que me despeço com um cheirinho de um conselho: Quero pensar em viver, dançar e sonhar. Se pensar em 2014, não estou a viver, estou a dramatizar!