1.7.14

Débitos directos. Falta de saldo leva à recusa de 39 mil pagamentos por dia

Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline

Durante o ano passado foram recusados mais de 2 mil milhões de euros em pagamentos por débito directo por falta de dinheiro dos clientes. Total de recusas subiu 5%

Foram recusados mais de 38,6 mil pagamentos por débito directo em cada dia do ano passado, perto de 10% do total de pagamentos realizados diariamente por esta via, segundo dados do Banco de Portugal ontem divulgados. Houve assim um crescimento de 5,1% nas recusas de débitos directos face a 2012, ano em que se registaram 36,7 mil recusas por dia.

Segundo as estatísticas disponibilizadas pelo banco central, em 2013 registaram-se um total de 141,2 milhões de operações por débito directo em Portugal, um valor 6% acima dos 133,2 milhões de pagamentos deste género registados em 2012. Das 141,2 milhões de operações de débito directo de 2013, mais de 15 milhões foram rejeitadas, a grande maioria das quais (91,7%) por falta de saldo nas contas associadas aos pagamentos. No ano anterior, e ainda segundo o banco central, tinham sido recusados 14,6 milhões de débitos directos, 13,4 milhões dos quais (91,8%) por falta de provisão.

Fazendo contas às duas percentagens para o peso da falta de dinheiro nas recusas de débitos directos, conclui-se que houve um crescimento de 4,8% no total de pagamentos recusados por falta de dinheiro nas contas de 2012 para 2013 - os 13,4 milhões de débitos directos recusados em 2012 passaram a 14,05 milhões em 2013. Apesar da subida no total de débitos directos recusados, acabou por se registar uma quebra no total do valor que ficou por pagar.

Os dados do Banco de Portugal mostram que no total de débitos directos recusados em 2013 ficaram em causa pagamentos no valor de 2,34 mil milhões de euros, montante que em 2012 atingia os 2,67 mil milhões de euros. A diferença de valores significa que no ano passado ficaram por pagar 5,7 milhões de euros por dia, ao passo que em 2012 esta verba ficou muito perto dos 6,5 milhões de euros diários. Esta queda ocorre num cenário em que o valor dos pagamentos feitos por dia até subiu, 1,6%, de 49,6 milhões de euros em 2012 para 50,4 milhões durante o ano passado.

Cheques em queda abrupta O Banco de Portugal avançou ontem com o Relatório dos Sistemas de Pagamentos de 2013, onde, além dos dados relativos a débitos directos, foram também divulgados valores relativos aos outros meios de pagamentos disponíveis em Portugal. Neste campo, destaque para os cheques, cada vez mais em desuso, que registaram uma redução de 14,4% na quantidade utilizada. Esta quebra implicou também uma redução no total de cheques devolvidos, que em 2013 atingira os 302 mil, uma queda de 36,7% face a 2012.

Do total de cheques devolvidos no ano passado, a maioria deveu-se igualmente à falta ou insuficiência de provisão (222 mil), com os cheques carecas a representarem 73,5% do total de devoluções. Em 2012 tinham sido devolvidos por falta ou insuficiência de provisão 370 mil cheques, mais 40% que no ano passado. Os cheques que foram devolvidos por estarem fora de prazo foram o segundo mais grupo dos devolvidos, com um peso de 6,4%, seguidos pelo dos cheques devolvidos a pedido do banco tomador (5,9%).


Taxa de rejeição mais elevada no crédito ao consumo

Débito directo regista taxa de rejeição mais alta nos pagamentos

Os pagamentos por débito directo registam “uma taxa de rejeição média significativamente mais elevada” que os cartões de pagamento, cheques ou transferências, avança o Banco dePortugal no relatório ontem divulgado. “Contudo, as empresas credoras que utilizam este instrumento de pagamento apresentam rácios de devolução bastante distintos entre sectores de actividade”, lê-se também no mesmo relatório sobre a utilização dos meios de pagamento em Portugal durante 2013.

Há assim uma enorme variação nas taxas de rejeição de cada sector, que em termos individuais vão de uma empresa com 0,52% de débitos directos rejeitados a outra com 69,59%, segundo o banco central. Tendo em conta a dificuldade de viver sem luz, água ou gás, não é de estranhar que este sector registe a taxa mais baixa de rejeição de débitos directos, na ordem de 1,3%. Por outro lado, “as ‘actividades desportivas/culturais’ registaram uma taxa de rejeição de 6,3%. Os serviços prestados por seguradoras corresponderam à terceira categoria em que o peso relativo das rejeições foi menos elevado”, com 9,2%.

Já nas telecomunicações, diz o Banco dePortugal, os pagamentos por débito directo rejeitados representam 11% do total, um valor que todavia é inflacionado por “uma entidade credora com um comportamento que difere de forma notória das restantes, registando uma taxa de rejeição bastante superior e influenciando negativamente o indicador deste sector”. Segundo o BdP, “caso esta entidade não fosse tomada em consideração”, as telecomunicações teriam uma taxa de rejeição de apenas 3,9%. Obanco central não divulga qual a entidade que tem uma taxa anormalmente elevada de rejeições.

Por fim, é no crédito ao consumo que se encontra a taxa de rejeição mais elevada, com 29,6% segundo o banco central.