Dora Mota, in Jornal de Notícias
Os portugueses têm, em média, 1,03 filhos, e gostariam de ter mais, mas admitem que não conseguirão ter o número que desejam. Segundo o Inquérito à Fecundidade 2013, divulgado esta segunda-feira de manhã pelo Instituto Nacional de Estatística, se os portugueses tivessem o número desejado de filhos, haveria substituição de gerações, o que não acontece desde meados dos anos 70.
Considerando a intenção manifestada pelos inquiridos (mulheres dos 18 aos 49 anos e homens dos 18 aos 54 anos), não haverá inversão da tendência de queda dos nascimentos em Portugal: três quartos das pessoas em idade fértil não pensam ter filhos nos próximos três anos. Entre elas, a maioria (53,2%) não pensa ter mais filhos de todo.
Os resultados do inquérito (uma parceria INE/Fundação Francisco Manuel dos Santos) revelam que há frustração nas expectativas dos portugueses em relação ao número de filhos. Em média, a população em idade fértil tem 1,03 filhos (fecundidade realizada), pretende vir a ter 1,78 (mais 0,74 filhos, fecundidade intencional), mas os filhos que desejam são muitos mais.
Em média, as pessoas desejam ter 2,31 filhos e consideram 2,38 como o número ideal de filhos numa família. Ou seja, caso os portugueses tivessem o número de filhos desejado, haveria substituição de gerações, o que não acontece em Portugal desde meados dos anos 70. Para tal acontecer, é necessário que o Índice de Sintético de Fecundidade (ISF) seja de 2,1.
Em 2012, nenhum dos 28 países da UE o alcançava, mas Portugal encontrava-se na cauda da Europa que não renova as suas gerações, com o ISF mais baixo de todos - 1,28 (filhos vivos por mulher). Mesmo França e Irlanda, os países com maior ISF - 2,01 - não alcançavam, por pouco, o ponto de equilíbrio demográfico.
Quase todos os inquiridos reclamam como principais medidas de apoio à natalidade o aumento dos rendimentos das famílias com filhos (a medida apontada como mais importante por mais de metade das pessoas) e ainda a facilitação de condições de trabalho para quem tem filhos, sem perda de regalias.
Os pais querem condições para criar e estar com os seus filhos, é o que podemos concluir se tivermos em conta também aquela que foi apontada como a medida de incentivo à natalidade menos importante: alargar o acesso a serviços para ocupação dos filhos durante o tempo de trabalho dos pais.