Ana Rute Silva, in Público on-line
Mais de 49% dos turistas residentes estão inactivos e, destes, perto de 20% são estudantes. Desempregados são responsáveis por 6,4% das deslocações.
Em 2002, 61,2% dos portugueses que viajavam dentro do país estavam empregados e 36% não trabalhavam. Dez anos depois, o cenário inverteu-se. A maioria dos turistas residentes (49,5%) são agora estudantes, domésticos ou reformados. E 6,4% estão desempregados. As pessoas no activo pesam hoje 44,5%.
De acordo com dados compilados pela Pordata, disponíveis desde ontem, entre os “inactivos” destacam-se os estudantes (20,7%) e os reformados (18,2%) – perfis que, nos últimos anos, têm vindo a ganhar peso como clientes do sector. Em 2002, os alunos não iam muito além dos 12% e os reformados chegavam perto dos 16%. Nessa altura, os turistas empregados eram mais importantes para o sector, chegando a representar 62,9% em 2006. Contudo, estão a perder terreno desde 2008, ano em que estalou a crise financeira mundial. A sua importância foi caindo até aos actuais 44,5%, mas como sublinha Maria João Valente Rosa, directora da Pordata, ainda são o principal grupo, secundado pelos estudantes e, depois, pelos reformados.
Os desempregados passaram de um peso de 2,8% em 2002, para 6,4% em 2012, o valor mais alto destes dez anos analisados. É o espelho de uma elevada taxa de desemprego que, com a crise, o país tem enfrentado.
Ao mesmo tempo, os portugueses fazem menos turismo do que há dez anos. Em 2002, quase metade da população residente (49%) fez pelo menos uma viagem. Agora, diz a Pordata, a percentagem é de 38%. Portugal mantém-se como principal destino turístico: em 2012, apenas 2,9% dos residentes saíram do país em viagem (o valor mais baixo registado).
Até 1984, os portugueses eram o principal cliente do turismo nacional, mas a realidade alterou-se a partir desse ano quando, pela primeira vez, os visitantes oriundos do exterior representaram mais de metade dos turistas. Os estrangeiros, que em 1965 representavam apenas 39,9% dos visitantes, pesam agora 55,5%. E esta foi a principal alteração que o sector viveu nas últimas décadas. “Um dos efeitos dessa evolução é o número de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros”, analisa Maria João Rosa, revelando que aumentou mais de seis vezes em menos de 50 anos. “Se em meados dos anos 60, o número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros era bem inferior à população de Portugal, actualmente já corresponde a cerca de quatro vezes o número de residentes”, sustenta.
A extensa base de dados da Pordata mostra, ainda, que os portugueses que viajaram cá dentro fazem-no para visitar familiares (48,3%). O lazer ou as férias são o segundo motivo principal (41,5%).
Turismo rural dispara
Nos últimos 28 anos, a oferta de unidades de turismo de habitação e no espaço rural passou de 109, em 1984, para 1045, em 2012, quase dez vezes mais. E se em 1997 este tipo de alojamento representava 21% do total da oferta hoteleira, até há dois anos valia 31% do mercado.
Entre as várias tipologias analisadas, predominam as casas de campo – passaram de umas escassas 15 unidades em 1999 para 337 em 2011. Já o turismo de habitação tinha, em 2011, 237 casas registadas. No agro-turismo eram 142.
A tendência de evolução deste alojamento foi sempre positiva até 2006, ano em que o número de unidades caiu 4% em comparação com o ano anterior. Regressou ao crescimento em 2007, mas em 2010, em pleno cenário de crise, registou-se novo travão. Este mercado, aliás, encolheu 12% desde essa altura.
Maria João Rosa acrescenta que a capacidade das unidades é, hoje, “cerca de 18 vezes superior ao que era”. E, em termos de procura, “o número de dormidas passou a ser 26 vezes superior ao de meados dos anos 80”. O crescimento superou o dos hotéis que, no mesmo período, “pouco mais que duplicaram em termos de capacidade de dormidas”. Ainda assim, a responsável da Pordata sublinha que os hotéis continuam a ser os “grandes aglutinadores das estadas turísticas em Portugal”.
Os dados da Pordata são compilados a partir de indicadores do Instituto Nacional de Estatística, Turismo de Portugal e Banco de Portugal, e fazem parte de uma nova secção dedicada ao turismo no contexto nacional. A organização, que pertence à Fundação Manuel dos Santos, passou a disponibilizar dados estatísticos sobre o sector pela primeira vez em Agosto de 2013, mas incluídos nos indicadores europeus. Agora, dedica um espaço próprio na secção dedicada à estatística nacional.