Isabel Pacheco, in RR
A pandemia obrigou muitas instituições a fechar, deixando pessoas sem apoio. Na cozinha do Colégio Luso Internacional de Braga “cabem todos”, incluindo refugiados. Um que veio da Síria não tem dúvidas: “o coronavírus é mais complicado que a guerra”.
Na cozinha do Colégio Luso Internacional de Braga, não há mãos a medir. Logo pela manhã, prepara-se a feijoada e o empadão de carne que vão chegar a casa de 300 pessoas.
A sopa está a cargo de Nadege. A africana dos camarões está em Portugal ao abrigo da Plataforma de Apoio aos Refugiados e, apesar de não falar português, já domina a cozinha nacional. Conta-nos que já sabe fazer “praticamente tudo”, inclusive os “bolos de peixe”, que logo alguém traduz por “bolinhos de bacalhau”.
Ao fundo da sala da cantina encontramos Amad a embalar sanduíches. É uma das tarefas que lhe calhou em mais um dia de voluntariado.
“Estou aqui para ajudar”, diz prontamente o refugiado sírio que, apesar de não falar bem português, encontra as palavras para comparar a guerra do seu país com “esta”, que “está a pôr o mundo doente”.
“O coronavírus é igual a uma guerra. É mais complicado porque na guerra tu sabes onde há guerra e sais. Isto da doença tu não sabes. É mais complicado”, diz.
Amad e Nadege são dois dos voluntários que, desde o início da pandemia de Covid-19 no nosso país, ajudam na resposta de emergência a alimentar em Braga. O projeto, coordenado por Helena Pina Vaz, chega diariamente a cerca de 300 pessoas, mas “começou com 67”, recorda a responsável.
As refeições são separadas diariamente em tabuleiros que hão de chegar aos beneficiários. Cada um representa “uma pessoa ou um agregado familiar”. “Cada tabuleiro tem uma história”, diz.
“Temos pessoas sem abrigo, outras que viviam da prostituição. Há muitos casos. Há famílias que ficaram sem emprego. Temos vários migrantes e muitos idosos que estão isolados sem forma de se deslocar para irem buscar um cabaz”, descreve Helena Pina Vaz.
Parte dos beneficiários viram as associações que os apoiavam a fechar portas devido à pandemia, sobretudo, “por impossibilidade de voluntários”, “muitos por doença outros por serem idosos”, explica a coordenadora. Outras instituições viram as cantinas que forneciam as refeições a encerrar. “Nós, pelo contrário, tínhamos disponibilidade de dar nova vida a esta cantina e oferecemo-nos para tomar conta das situações”.
A ajuda é distribuída casa a casa por equipas de voluntários. Cada uma com a sua rota. “As nossa rotas já estão com um perímetro muito alargado. Ainda, hoje, desdobramos uma rota em duas porque as residências começam a ficar cada vez mais distantes”, conta.
“Ao final do dia, verificamos se entraram novos casos, porque um pedido que nos façam chegar hoje à noite, no dia seguinte já está a receber a refeição”.
Entre funcionários do colégio, pais, famílias de refugiados, empresas e parceiros, Helena confessa que já perdeu a noção de quantos voluntários estão envolvidos no projeto. Uma coisa é certa: “toda agente está a inventar ideias que depois vêm aqui cair”.
Fica só mesmo a faltar um nome. “Começámos por chamar cozinha do amor, daí passou para barco do amor”. Depois ficou a “cozinha do coração”, conta a bracarense que explica que esta “é uma cozinha onde cabem todos: para ajudar e para receber”.
“Ao final do dia, verificamos se entraram novos casos, porque um pedido que nos façam chegar hoje à noite, no dia seguinte já está a receber a refeição”.
Entre funcionários do colégio, pais, famílias de refugiados, empresas e parceiros, Helena confessa que já perdeu a noção de quantos voluntários estão envolvidos no projeto. Uma coisa é certa: “toda agente está a inventar ideias que depois vêm aqui cair”.
Fica só mesmo a faltar um nome. “Começámos por chamar cozinha do amor, daí passou para barco do amor”. Depois ficou a “cozinha do coração”, conta a bracarense que explica que esta “é uma cozinha onde cabem todos: para ajudar e para receber”.