Joana Amorim, in DN
Banco Alimentar apoia 11 mil novas famílias. Migrantes, trabalhadores independentes e em lay-off são os novos pobres a pedir apoio.
Numa crise que não se fez anunciar, o dia 18 de março marcou o fim ou a redução significativa de rendimentos para muitos portugueses. Os pedidos de ajuda à Cáritas e ao Banco Alimentar não param de aumentar. Trabalhadores independentes, em lay-off, dependentes da economia informal e migrantes são os que mais ali acorrem. Juntam-se aos 2,2 milhões de pobres que persistem no nosso país. Número que irá disparar. Se na ordem das dezenas ou das centenas de milhar dependerá agora da duração da crise e das políticas de combate a adotar. Que se pedem inclusivas.
"A grande maioria das 20 Cáritas Diocesanas duplicaram o número de atendimentos", revela, ao JN, o seu presidente, dando como exemplos Porto, Açores, Viseu, Guarda, Setúbal, Beja, Portalegre. Realidade que Eugénio Fonseca estima ser bem "pior, quando apurados os dados das paróquias".
Aos que já eram apoiados, surgem agora os "novos pobres". E o que difere da crise de 2008? À falta de anúncio prévio, o facto de no pós-crise, explica o presidente da Cáritas, "o mercado de trabalho ter crescido com baixos salários". Ou seja, "mesmo quem entra em lay-off, perdendo um terço do salário, não consegue fazer face às necessidades fundamentais". Não é por isso de estranhar que haja 9,7% de portugueses que mesmo estando empregados não conseguem sair da pobreza.
BA apoia mais 11 mil
No Banco Alimentar (BA), o cenário é idêntico. Às 400 mil pessoas que já eram apoiadas, somaram-se, no último mês, mais 50 mil. Através da Rede de Emergência Alimentar, criada para fazer face ao atual estado de emergência, em parceria com a Associação Entreajuda, 10 662 famílias haviam solicitado ajuda até à passada noite de quarta-feira, quantifica, ao JN, Isabel Jonet.
Segundo a presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, "são pessoas que, de um momento para o outro, ficaram sem qualquer rendimento: trabalhadores independentes, por conta própria, da economia informal". O aumento da procura foi de tal ordem que a meio deste mês foi necessário fazer um reforço de stocks, nomeadamente de produtos secos.
E aqui reside a maior preocupação de Isabel Jonet. É que se os frescos abundam, com as doações de excedentes da agricultura, nos secos regista-se o oposto. A maioria são angariados nas duas campanhas anuais que o BA leva a cabo nos supermercados, sendo "impossível" realizar a de maio, onde conseguem arrecadar 2800 toneladas de produtos secos.
O reforço tem sido feito "com dinheiro angariado em campanhas e com doações" da Distribuição. Os vales vão continuar à venda nos supermercados e no site "alimentestaideia.pt" é também possível doar.
Distribuição de vales
Já a Cáritas recorreu às suas reservas, alocando cem mil euros para distribuir em vales de compras e 30 mil euros para outras necessidades, como sejam medicamentos, próteses ou contas de água e luz. Verba que servirá para apoiar 500 famílias, num total de duas mil pessoas. Para executar até ao final de junho, apesar de Eugénio Fonseca temer "que se esgote antes". Por isso, pede ao Governo um "plano de contingência social". Para ontem.
21,9% das crianças estão em risco de pobreza. Famílias com três ou mais crianças e agregados monoparentais com crianças a cargo continuam a ser as mais fustigadas.
540 mil portugueses saíram da pobreza entre 2008 e 2018. Contudo, subiu para 19,4% a taxa de persistência, isto é, da população que em dois dos três anos anteriores continuou na pobreza.
Comunidade migrante
No último mês, a Cáritas Diocesana do Porto teve "pedidos de 54 novas famílias, 23 das quais estrangeiras, em especial do Brasil, Colômbia e Venezuela", precisa ao JN o seu presidente, Paulo Gonçalves.