Olímpia Mairos, in RR
Uns vieram de férias, outros vieram porque as empresas fecharam. Todos estão apreensivos com o que vão encontrar, quando regressarem.
Otávio e Adélia são emigrantes em França. Vieram de férias poucos dias antes da Páscoa e não sabem quando vão regressar. A indefinição prende-se, por um lado, com a crise pandémica nos dois países e, por outro, com a ausência de trabalho.
O casal trabalhava numa empresa de limpeza de vidros. Encerrou como tantas outras, devido à Covid-19. “Soubemos a triste notícia já em Portugal”, conta Otávio com a voz embargada. O emigrante pensa em regressar de novo aos arredores de Paris, onde tem casa própria, mas admite que lhe “falta a coragem para recomeçar de novo”.
Insegurança, apreensão e tristeza são também os sentimentos de Adélia. “Nunca pensei que uma coisa destas nos viesse bater à porta e com 58 anos já não é fácil encontrar trabalho”, conta.
O casal está a fazer tempo para ganhar coragem e também para que termine o estado de emergência em Portugal, mas também em Espanha e em França. “Já viu, se nos metemos ao caminho e depois temos que voltar para trás?”, questiona Otávio, acrescentando que a viagem é dura e mais dura agora, "com esta amargura no peito”.
Por cá, o casal de emigrantes vai dividindo o tempo entre a habitação e o pequeno quintal onde já plantaram “umas árvores de fruto”. Ambos mantêm a esperança de “dias melhores” e acreditam que, “apesar das dificuldades, é possível dar a volta por cima”.
França prolonga confinamento até 11 de maio, escolas e creches reabrem a partir desse dia
França ficará em total confinamento até ao dia 11 de maio. A partir dessa data, o país começará a voltar à normalidade, de forma progressiva, anunciou o Presidente Emmanuel Macron. A partir de 11 de maio, os estabelecimentos começarão a reabrir e terminará, progressivamente, o período de isolamento social da população. No entanto, Macron garante que se tratará de um processo lento, que começará pelas escolas e creches.
Restaurantes, cafés, museus e hóteis devem permanecer fechados para lá de 11 de maio. Uso de máscara será aconselhado em locais públicos.
“Não vale a pena regressar, não tenho direitos nenhuns e aquilo lá ainda está pior do que aqui”
Também Rui Coelho trabalhava em França, na construção civil. Quando veio para Portugal já a empresa para quem prestava serviço tinha fechado portas. Foi esse o motivo que o fez regressar, até porque não tinha qualquer vínculo à empresa. “Não vale a pena regressar, não tenho direitos nenhuns e aquilo lá ainda está pior do que aqui”, desabafa.
Os projetos de Rui passam por “deixar acalmar as coisas e tentar procurar trabalho nas obras”. “Sei que não será fácil, mas, pelo menos, tenho o suporte dos meus pais e lá estava sozinho”, conta o jovem à Renascença.
À espera de regressar a Espanha estão António e Conceição. Os dois trabalham num spa, nos arredores de Madrid, que foi obrigado a fechar portas. “Só vamos regressar quando não houver restrições. Não vale a pena ir antes, até porque lá as medidas são bem mais apertadas”, diz António.
Mas se António alimenta a esperança de preservar o trabalho, Conceição tem algumas dúvidas, porque, diz, “os patrões tanto tempo sem fazerem dinheiro, é natural que não voltem a abrir”.
Apesar de os dois estarem sem trabalhar há mais de um mês, garantem que têm “recebido direitinho”. “Sabemos que isto não vai durar muito mais tempo”, atira Conceição. O jovem casal não arrisca datas para a viagem até Madrid, mas afirma que “é vontade dos dois continuar por lá a vida”.
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