Por P. Armando Soares, in Jornal da Madeira
Não divididos mas juntos
O bispo do Porto pediu ao Governo que “desça à realidade”, perante o impacto da Covid-19 nas instituições sociais que acompanham a população mais velha.
“Eu ponho mais confiança nas estruturas locais”, concretamente os Municípios, que têm dado exemplo de extrema dedicação”, referiu na entrevista à Renascença/ECCLESIA, transmitida na sexta-feira (17/04).
“São as Câmaras Municipais que estão a fazer os testes que o Ministério da Saúde não fez, até ao momento, aos velhinhos”. “Eu não sei se, de facto, as estruturas nacionais, a nível da saúde, estão a dar-se conta do que é o problema dos nossos lares. E faz apelo a uma ação coordenada com as estruturas diretivas das instituições de solidariedade e as Câmaras Municipais, afirmando que as mesmas têm “sido impecáveis, inacreditáveis, nessa presença”.
“Este não é o momento de nos dividirmos, mas é o momento de nos juntarmos; não obstante nem tudo está a funcionar bem a nível nacional”, acrescenta.
D. Manuel Linda admite receios perante a dimensão da crise económica. As consequências já se começam a sentir na própria cidade do Porto, onde um dos centros paroquiais que estava a servir cerca de 100 refeições “está neste momento a servir 350”.
Em situação grave
A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) manifestaram no dia 12 de abril, preocupação com a “grave situação” que dizem existir nos lares de idosos e pessoas com deficiência.
Em comunicado conjunto, sublinham, no contexto da pandemia de Covid-19, que os lares “não são equipamentos de saúde”, não podem ser deixados por sua conta no tratamento desses doentes.
Sublinham ainda que se está perante “uma doença aguda, de rápida evolução, alta contagiosidade, e elevada mortalidade na população frágil e idosa”, perante a qual os lares “não possuem condições, quer em termos de infraestruturas, quer em termos de recursos técnicos e humanos para darem acompanhamento” aos contagiados.
“Um doente com infeção de Covid-19 necessita de cuidados de saúde, com vigilância diária por médicos e enfermeiros. Precisará muito provavelmente de controlo sintomático em fim de vida por doença aguda e rapidamente progressiva. “As Auxiliares não são médicos, nem enfermeiras”.
A UMP e a CNIS alertam ainda para a falta de espaços de isolamento, equipamentos de proteção individual (EPI) e profissionais de saúde “adequadamente treinados para prevenir o contágio”.
“Temos assistido nos últimos dias a situações dramáticas de doentes residentes em lar a quem não são assegurados os cuidados básicos de saúde”, adverte a posição conjunta.
O documento conclui com um apelo à intervenção do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, para promover a articulação com o Ministério da Saúde.
Setor social
Em 03/04, o Padre Lino Maia dizia: “São necessários testes, testes, testes!”, é preciso “encontrar respostas de emergência, na pandemia”, sem esquecer as “pessoas com deficiência, normalmente sem retaguarda familiar”.
Não nos esqueçamos que nestes lares temos uma população frágil, a mais carecida de apoio, muitas vezes com um histórico de saúde já complicado. Estamos a falar de uma multidão de cerca de 200 mil pessoas.
O presidente da CNIS mostrou-se “muito apreensivo” face ao futuro de várias instituições sociais e a uma crise económica, “que vai durar muito tempo”. O desemprego vai aumentar sistematicamente.
Para o padre Lino Maia, o ‘day-after’ vai mostrar “um país mais pobre, mais deprimido, com mais pessoas a precisarem de ajuda”, do Estado e das instituições financeiras.
Grupos de risco
A Rede Europeia Anti Pobreza em Portugal (EAPN) afirmou que “não há economia sem pessoas” e que “é necessário fazer mais” pela proteção dos grupos de maior risco nesta crise”.
“Todos os que estão nas franjas de uma sociedade que se quer inclusiva e justa, precisam de ação eficaz e eficiente por parte de todos: Governo, empresas e organizações não-governamentais, sociedade civil”, explica a direção da EAPN Portugal.
Congratula-se com “as medidas do Governo” para “proteger os trabalhadores e suas famílias” das consequências económicas e sociais da crise mas considera que é necessário “aumentar as medidas de proteção dos grupos de maior vulnerabilidade”.
«A organização está inquieta pelos trabalhadores precários, os trabalhadores com baixas remunerações, trabalhadores na economia informal, como “as empregadas de limpeza”, os empresários em nome individual “em setores de atividade estagnados”, as pessoas desempregadas, as “famílias com crianças, os idosos, os doentes, as pessoas com deficiência e os sem-abrigo, os reclusos e as minorias, como “as comunidades ciganas e migrantes”, as crianças em situação de risco e perigo e as “vítimas de maus tratos”, pela “situação dos beneficiários do RSI e de outras prestações sociais”, e pelos trabalhadores dos lares de idosos e outras residências.»
Todos merecem o nosso olhar atentíssimo, humano, absolutamente solidário, e todos merecem que levantemos por eles a nossa indignação e a nossa voz. É necessário fazer mais pela proteção dos grupos de maior risco nesta crise, pede a direção da EAPN.