Por Pedro Rios, in Público online
O Arrebita! Porto arrancou nesta quarta-feira com a assinatura de um protocolo que envolve a Fundação Calouste Gulbenkian, a Câmara do Porto e a Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo.
Dois portugueses, uma norueguesa, um italiano e um sérvio, todos estudantes de Arquitectura. Estão juntos desde segunda-feira no Porto com uma missão: começar a inédita tarefa de reabilitar a custo zero edifícios do centro histórico.
Candidataram-se e foram seleccionados para integrarem a primeira equipa operacional do projecto Arrebita! Porto, que arranca oficialmente hoje com a assinatura de um protocolo que envolve vários parceiros, como a Câmara do Porto, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana, entre outros. A quantidade de parceiros faz parte do ADN de um projecto que vive da "colaboração" entre instituições para conseguir reabilitar sem verbas, diz ao PÚBLICO José Paixão, o arquitecto que coordena o Arrebita! Porto.
E como se reabilita a custo zero? Criando um esquema em que todas as partes envolvidas ganham. Ganham as entidades públicas interessadas em reabilitar o património das cidades; os estudantes de Arquitectura e Engenharia, que podem pôr as mãos na massa e fazer uma espécie de "Erasmus prático"; as escolas de ensino superior, que podem usar as reabilitações como casos de estudo nos seus cursos; e as empresas, que podem envolver-se num projecto de responsabilidade social e deduzir custos de IRC, ao abrigo do mecenato social.
"As empresas podem pagar impostos com material que têm em stock", algo particularmente interessante "nestes tempos em que a liquidez é limitada", aponta José Paixão.
O primeiro edifício a reabilitar é um prédio da Rua da Reboleira (números 42-46). O edifício, propriedade da Câmara do Porto, está "devoluto há muitos anos", conta o arquitecto. "A cobertura estava danificada severamente", o que fez com que "as madeiras, as vigas e os pavimentos se tenham degradado com alguma gravidade". Os trabalhos de reforço estrutural, e todos os outros, serão feitos por estudantes, com o apoio de uma empresa parceira especializada em patologia de edifícios.
Tudo começou como uma ideia de José Paixão, jovem arquitecto do Porto, de Diogo Coutinho, engenheiro civil, e de Angélica Carvalho, então estudante de Arquitectura. No Verão passado, a ideia, então designada Reabilitação a Custo Zero, venceu o primeiro prémio do concurso FAZ - Ideias de Origem Portuguesa, criado pelas fundações Gulbenkian e Talento para distinguir iniciativas de portugueses no estrangeiro, no valor de 50 mil euros.
Concluíram que na raiz do problema da degradação dos cascos velhos das cidades está a dificuldade de pôr o modelo de mercado a funcionar para a reabilitação: esta não é rentável, a não ser que se destine apenas aos clientes mais abastados, defendem os autores do projecto. A situação é agravada pelo facto de muitos proprietários não terem recursos para fazer obras (o projecto destina-se apenas a prédios de senhorios sem recursos).
Qualquer resposta tinha, então, de criar um modelo em que todos ganhassem com a reabilitação, por oposição à situação actual, em que "ninguém" ganha ou "dificilmente" ganha com ela. Eis, então, o Arrebita! Porto.
Próxima paragem: Lituânia
Licenciado em Arquitectura pela Universidade de Nottingham, em Inglaterra, e com experiência profissional em gabinetes de Londres e Amesterdão, José Paixão estava no estrangeiro há 12 anos. Voltou quando soube que o seu projecto tinha sido premiado no FAZ - Ideias de Origem Portuguesa.
Agora, José só quer desenvolver o projecto na sua cidade de origem, o Porto. "Estou completamente focado, o sucesso do Arrebita! depende de nós. Estou empenhado em fazê-lo crescer. Acredito que o projecto tem o potencial de ser replicado noutras cidades para outros problemas e noutras circunstâncias", vinca.