Por António Marujo, in Público on-line
A Secretaria de Estado das Comunidades vai promover uma campanha de prevenção para evitar que haja portugueses a emigrar sem qualquer garantia de ter emprego ou alojamento nos países de acolhimento.
A campanha terá a colaboração das paróquias católicas de todo o país, que garantirão a passagem de informação. A informação foi dada ao PÚBLICO por frei Francisco Sales Diniz, director da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).
De acordo com este responsável, o envolvimento de Portugal nesta acção pretende também demonstrar aos países de acolhimento que as autoridades portuguesas estão empenhadas em colaborar na resolução dos problemas que têm aparecido.
Os casos mais preocupantes têm sido registados na Suíça, Reino Unido, França, Alemanha, Luxemburgo e Holanda. Centenas de pessoas, diz Francisco Sales, têm acorrido às missões católicas a pedir ajuda depois de se terem visto sem emprego e sem casa.
“As pessoas vêem-se sem meios e, como nunca trabalharam nesses países, também não têm qualquer forma de apoio”, revela Sales Diniz.
Para tentar encontrar estratégias de apoio a esses casos, a OCPM e a Cáritas Portuguesa reúnem hoje à tarde e amanhã de manhã, em Alfragide, Amadora, duas dezenas de responsáveis de missões católicas no estrangeiro e da Cáritas daqueles seis países de acolhimento. O encontro conta ainda com responsáveis da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (Comece).
Famílias sem-abrigo
“Chegam-nos notícias de situações verdadeiramente dramáticas em alguns países”, justifica a Cáritas, na apresentação da iniciativa. “Nas últimas semanas temos assistido, em Portugal, à divulgação de informação, nos meios de comunicação social, sobre a situação na Suíça, particularmente sobre a situação dramática dos sem-abrigo, contando-se, entre estes, famílias inteiras com crianças.” Mas há situações semelhantes nos outros países referidos, diz a instituição católica de acção social.
A Cáritas explica que “as missões, as associações de emigrantes, a Igreja suíça e até mesmo algumas instituições suíças vêem-se confrontadas com muitos pedidos de ajuda e com dificuldade em dar resposta a todas as situações”.
Francisco Sales Diniz acrescenta que as missões católicas tão pouco estavam preparadas para esta “situação de emergência”. Por isso, a OCPM e a Cáritas entenderam que era importante ter parcerias no terreno para ir ao encontro das necessidades destes emigrantes.
Em causa, diz Sales Diniz, estão as redes de contratação de trabalhadores que tentam angariar mão-de-obra barata. “É preciso prevenir as pessoas contra as falsas ilusões”, alerta o responsável da OCPM. Daí a importância da campanha que estas estruturas da Igreja estão a preparar com o Governo, e que utilizará cartazes, folhetos e anúncios na comunicação social, além de um telefone de apoio e informações através da Internet.
Sales Diniz diz ainda que não sabe exactamente quantos serão os portugueses a viver nestas situações. A OCPM está a aguardar um levantamento da situação, mas o seu responsável calcula que serão “algumas centenas” as pessoas a viver estes casos. “Há, de certeza, muitas outras pessoas fora desta estatística, porque não recorreu às missões católicas”, calcula.
Há menos de dois meses, esta realidade já motivara um encontro entre os responsáveis da OCPM e uma delegação do Partido Comunista Português.
Durante a tarde de hoje, os participantes no encontro irão traçar um retrato da situação. Na sessão inicial, estará também presente o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Amanhã, os responsáveis dos países de acolhimento irão falar dos problemas dos emigrantes, após o que serão definidas estratégias comuns de actuação.