Nuno Aguiar, in Dinheiro Vivo
Quase metade dos portugueses entre os 15 e os 24 anos estão desempregados. A situação dos jovens é bem pior do que mostram os números oficiais. É que, além daqueles que estão à procura de trabalho, é preciso juntar os que desistiram de procurar, bem como aqueles que estão numa situação de subemprego. Tudo somado, a taxa de desemprego real dos jovens é 44,7%, no primeiro trimestre deste ano.
Os números oficiais divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelaram um desemprego jovem de 36,2%, uma subida face aos 35,4% do trimestre anterior e aos 27,8% registados há um ano. No entanto, estas percentagens deixam de fora uma fatia importante dos jovens portugueses. Em concreto, não estão aqui contabilizados aqueles que, apesar de quererem trabalhar, não tentam procurar emprego, e as pessoas que trabalham menos horas do que o normal para o seu posto de trabalho e estão disponíveis para trabalhar mais tempo. São os inativos disponíveis e o subemprego visível.
Segundo os dados enviados pelo INE ao Dinheiro Vivo, ao acrescentar os portugueses que estão nestas duas situações, o número de desempregados jovens sobe praticamente para metade da população ativa (44,7%). Há um ano, esta percentagem estava nos 36,1%. Este desemprego “escondido” contribui com mais 53,4 mil desempregados. Ou seja, no primeiro trimestre deste ano, em vez de 154,4 mil jovens sem trabalho, há 207,8 mil alienados do mercado de trabalho. Mais 36,3 mil que no período homólogo. Um aumento de 21,2% apenas num ano.
E este nem sequer é um número totalmente fiel. Existe uma fatia de jovens impossível de determinar que, confrontando-se com as dificuldades do mercado de trabalho nacional, decidiu prolongar “artificialmente” a sua educação. E, claro, faltam também aqueles que acabaram por emigrar.
Na realidade, o número de desempregados jovens até diminuiu ligeiramente em relação ao trimestre anterior, passando de 156,3 mil para 154,4 mil. O número de empregados entre os 15 e os 24 anos também caiu (285,1 mil para 272,3 mil). Ou seja, apesar de haver menos 13 mil jovens empregados, isso não se refletiu em mais desempregados. O que significa que terá havido um movimento de abandono do mercado de trabalho. De facto, a população ativa jovem caiu de 441,4 mil, para 426,7 mil.
Mercado segmentado
Contando com todas as faixas etárias, o desemprego oficial aumentou de 14% para 14,9%. Um novo máximo histórico, para um indicador que tem batido recordes trimestre atrás de trimestre. Mas, também aqui, a taxa de desemprego real é bem mais elevada (21,5%), atingindo já mais de 1,2 milhões de pessoas. A Comissão Europeia estima que Portugal acabe o ano com um desemprego médio de 15,5%, o que indica que deverá ainda haver lugar a subidas significativas. Para 2013, a UE aponta para uma ligeira descida, para os 15,1%.
Segundo o INE, o aumento do desemprego neste trimestre “ocorreu essencialmente nos seguintes grupos populacionais: mulheres, pessoas com 35 e mais anos, com nível de escolaridade completo correspondente ao ensino secundário e pós-secundário e ao ensino básico, à procura de novo emprego (com origem no setor dos serviços) e à procura de emprego há menos de 12 meses”.
A análise dos números do INE permite também perceber que o mercado laboral português está profundamente segmentado. Por um lado, os trabalhadores com contratos sem termo têm sido pouco afetados por esta onda de desemprego, com o número de trabalhadores nesta situação a diminuir apenas 0,76% face ao trimestre anterior e 1,44% em relação ao período homólogo. Por outro lado, os empregados com vínculo precário (contratos a prazo e recibos verdes) caiu 7,62% e 12,98%, respetivamente. Ou seja, existe uma grande rotatividade deste tipo de trabalhadores e uma mobilidade muito mais reduzida para quem está nos “quadros”.