Por Margarida Bon de Sousa e Daniela Teles Fernandes, in iOnline
Os 15,3% avançados pelo Eurostat explicam-se pela recessão e pela diminuição dos apoios estatais a empregos sem sustentabilidade
Os 15,3% de desemprego para Portugal anunciados pelo Eurostat vão subir pelo menos até final de 2013, havendo divergências entre os economistas quanto ao seu potencial agravamento.
Há quem admita que possamos aproximar-nos dos 20%, não só devido à recessão mas também ao facto de diversas políticas de emprego financiadas nos últimos anos pelo Estado através de mais endividamento estarem neste momento suspensas. O Instituto de Emprego e Formação Profissional executou até Março apenas 40% do valor já utilizado no período homólogo.
“Durante muitos anos houve criação de emprego não sustentado através deste tipo de medidas, que agora se reflecte nos números do Eurostat”, disse um ex-governante do PSD ao i.
O economista João César das Neves não é tão pessimista. “Penso que o caso espanhol é único no mundo e assim se deve manter. Não é nada provável que Portugal chegue aí. Os valores actuais são inesperados para todos e ainda é cedo para os conseguir interpretar. Serão sustentáveis? Transitórios? Ninguém sabe com certeza. Penso que o mais razoável é dizer que esta subida intensa vai acabar em breve e até é provável que haja um recuo, quando a economia começa a ajustar. Os cenários catastrofistas são muito pouco prováveis”, disse ao i.
Já António Dornelas, do ISCTE, defende que sem crescimento económico não poderá existir emprego e que por isso o desemprego vai continuar a aumentar. “Eu não sei como se pode travá-lo, até porque a administração pública não está disponível para absorver mão de obra. Antes pelo contrário.”
Maior consenso existe nos limites do crescimento do PIB a partir do qual o desemprego deverá estagnar: entre 1,5% e 2%, o que só acontecerá, na melhor das hipóteses, em 2014. Quanto ao crescimento do emprego, só é de esperar acima daquele patamar.
Portugal continua a ser o terceiro país da UE onde o desemprego é mais elevado. À frente só a Grécia (21,7%) e a Espanha (24,1%). Miguel Relvas, ministro-adjunto dos Assuntos Parlamentares, disse ontem que os números são preocupantes. “O desemprego tira-nos o sono e é muito motivador para o trabalho que estamos todos os dias a desenvolver”, afirmou.
Também o secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento, afirmou que o resultado de Março foi algo “inesperado”, apontando como solução a reforma do mercado de trabalho.
Desemprego espanhol Espanha continua ser o país mais afectado pela diminuição de postos de trabalho. Nos primeiros três meses do ano havia 5 639 500 desempregados no país vizinho. As regiões mais afectadas foram a Andaluzia, a Comunidade de Madrid e a Comunidade Valenciana.
A contrastar, o País Basco tem a taxa de desemprego mais baixa, 14% no primeiro trimestre. No pólo oposto estão a Andaluzia, as Ilhas Canárias e a Estremadura, com mais de 30%.
Um em quatro trabalhadores espanhóis encontra-se desempregado, de acordo com os dados da OCDE. Espanha terá de criar 2,2 milhões de postos de trabalho para que os níveis de empregabilidade voltem a ser os anteriores à crise.
As principais causas de desemprego no país vizinho prendem-se com a bolha do imobiliário, as taxas de abandono escolar elevadas, os altos níveis de emprego temporário e a falta de mobilidade dos trabalhadores.