16.1.13

Carta aberta junta médicos de quatro países contra austeridade na saúde

Andrea Cunha Freitas, in Público on-line

Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda são os quatro países signatários do documento, que foi remetido “aos dirigentes políticos e às autoridades de saúde da Europa”.

Um movimento “internacional inédito”, apresentado nesta terça-feira em Lisboa pelo bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, junta profissionais de saúde de quatro países num apelo a uma “rápida revisão” das medidas de austeridade para “urgentemente evitar mais deterioração da saúde e dos serviços de saúde”.

Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda subscrevem a carta aberta endereçada aos “dirigentes políticos e às autoridades de saúde da Europa”. O ministro da Saúde, Paulo Macedo, já reagiu à tomada de posição comum, admitindo que é inevitável que a crise tenha um “impacto real na saúde”.

“É claríssimo que uma crise com esta dimensão, aumentando o desemprego e o conjunto de pessoas com dificuldades financeiras, tem um impacto real na saúde dos portugueses. Temos, por isso, de ter a certeza de que a resposta em termos de cuidados primários é real e adequada, daí estarmos a reforçar esses cuidados, também na parte de saúde pública, com a vacinação de grupos de risco contra a gripe, e na área da saúde mental”, comentou o ministro, em declarações à agência Lusa.

E acrescentou: “Perante a crise, o que nós temos de ver é como é que lhe fazemos face, quais as áreas prioritárias para actuar; não necessitamos que nenhum grupo internacional nos venha dizer isto”.

O documento divulgado esta terça-feira denuncia que “os serviços públicos têm sido privados das verbas necessárias para desempenhos adequados, ao mesmo tempo que aumentam as necessidades em saúde na comunidade”.

“Eis o que está a acontecer: extenso e profundo sofrimento humano – um número crescente de situações que desafiam as mais básicas e éticas noções de dignidade humana”, defendem os subscritores do documento que, em Portugal, conta com o apoio do bastonário da OM, dos ex-ministros Maria de Belém Roseira e Paulo Mendo, dos investigadores Ana Escoval, Constantino Sakellarides e Henrique Barros, do especialista em cuidados primários Vítor Ramos, do ex-presidente do Infarmed Aranda da Silva e da enfermeira Maria Augusta Sousa.

A estes especialistas portugueses juntam-se outros dos restantes países envolvidos neste movimento e que constatam que as decisões económicas e financeiras tomadas recentemente tiveram implicações, entre as quais uma “diminuição de acesso a serviços de saúde apropriados”, “baixa da auto-estima, depressão e suicídio”, “susceptibilidade acrescida a doenças transmissíveis” e “aumento de comportamentos de risco, tanto em termos de dependências como em relação aos factores de risco de doenças crónicas”.

“Podemos aceitar piorar ainda? Onde está o traço vermelho além do qual não é aceitável ir? As decisões que estão a ser tomadas atravessam essa linha?”, disse esta terça-feira Constantino Sakellarides durante a conferência de imprensa na sede da OM em Lisboa que serviu para apresentar o documento.