22.1.13

Crise faz crescer abandono e maus tratos de animais

Ana Carla Rosário, in Jornal de Notícias

Há cada vez mais famílias a entregar animais de estimação nos canis. Queixas de maus tratos também sobem. Por ano, são abandonados mais de 10 mil bichos. Meio milhão não tem dono. 2013 está a ser "caótico".

É nos grandes centros urbanos que se regista o maior número de animais entregues nos canis municipais por incapacidade económica. Sendo o canil uma alternativa legal ao abandono, em 2012, no Porto, até houve menos capturas de cães e gatos abandonados nas ruas, mas, num ano, aumentou em quase meia centena - de 636 para 678 - o número de bichos que foram lá parar pelas mãos dos donos.

"A situação tem vindo a degradar-se desde 2011. O ano passado foi caótico e 2013 está a ser pior", ilustra Maria do Céu Sampaio, presidente da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais (LPDA). Notando-se uma crescente preocupação com os animais, aumenta, na exata medida, o número de queixas por maus tratos. Não tanto físicos, mas por falta de cuidados de alojamento e alimentação.

Os "novos fenómenos sociais adensam o problema. "Muitos dos animais que temos recebido dizem respeito a pessoas que vão emigrar e não os querem levar", refere a dirigente da LPDA, notando que tem havido uma quebra também nos cuidados sanitários.

"As pessoas já não trazem os bichos para serem vacinados", diz, referindo que o IVA a 23% (mesmo as castrações aos animais de rua) só piora o cenário. "Há casos em que estamos a levar comida a casa das pessoas para os animais não serem abandonados".

Na Póvoa de Lanhoso, porém, os maus tratos são "muitas vezes psicológicos" e não só a animais domésticos, estendendo-se a "cavalos e ovelhas".

Abandono durante a caça

Já em Bragança, o problema de abandono de animais não tem tanto a ver com a crise. Segundo fonte do Centro de Recolha e Proteção Animal do Vale do Douro Norte (que engloba os concelhos de Bragança, Vimioso, Mogadouro e Miranda do Douro), "o abandono é um fenómeno regular associado às atividades venatórias, de forte expressão nesta região, verificando-se um aumento dos animais errantes maior durante a época de caça". Predominam, pois, os cães e, como na maioria dos concelhos mais rurais, a presença de gatos é residual.

Já nas cidades grandes, como o Porto, "a disponibilidade de alimento e abrigo na cidade é favorável à manutenção e aumento das colónias de gatos errantes".

O canil municipal do Seixal recebeu, em 2012, mais animais abandonados e muitas queixas de falta de cuidados de saúde primários, de condições de alojamento e carências nutricionais de cães, gatos, mas também, e cada vez mais, de aves e cavalos. A lotação está esgotada.