Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline
Milhares protestaram contra “assassinío”. Empresas, Universidades e cipriotas perdem 80% das poupanças
A imposição de várias limitações ao fluxo de capitais em Chipre para evitar que as medidas de Bruxelas provoquem um êxodo de euros do país, o que daria a estocada final na economia, serviu para criar artificialmente uma nova moeda dentro da moeda única, o “euro cipriota” - já que um euro em Chipre já não é uma unidade monetária livre, valendo por isso menos que, por exemplo, um euro francês.
A oficialização pelas autoridades cipriotas de um conjunto de regras para o controlo de capitais - congelando o levantamento de cheques ou proibindo que qualquer cidadão saia do país com mais de 3000 euros consigo [ver pág. ao lado] - levou a mais um dia de crescendo na crise europeia, reacendida no início da semana passada pela decisão da troika de impor uma captura de depósitos de cidadãos, empresas, universidades e investidores para pagar a reestruturação bancária em Chipre. Em causa está um país que vale 0,2% do PIB da zona euro e que precisou de um empréstimo que equivale a menos de 13% daquilo que foi emprestado a Portugal. O controlo de capitais, dizem oficiais cipriotas, estará em vigor durante quatro dias, mas quase ninguém acredita: ora por causa do teor das medidas tomadas - com regras mensais e trimestrais -, como à conta do caso Islandês, cujas medidas “para poucos meses” anunciadas em 2009 continuam em vigor. Aliás, os próprios cipriotas admitem rever prazos: “Não quer dizer que o prazo não possa ser revisto dependendo da evolução do caso”, avançou Yiangos Demetriou, responsável do banco central cipriota, depois de apresentar as medidas. “As medidas serão revistas diariamente.”
Os alarmes em relação ao caso cipriota levou também a que um novo conjunto de países se afastasse dos cipriotas. Luxemburgo e Malta, cujos sectores bancários são bem maiores que o cipriota em termos de peso no PIB do país, fizeram questão de vir defender os seus bancos como forma de se blindarem dos contágios do caso cipriota.
Além dos alarmes a tocar nos mercados, com os juros das dívidas soberanas a regressar às subidas e as emissões dos Estados nos mercados a voltarem a sair mais caras, hoje pode ser um dia de alarmes nos bancos cipriotas. O banco central de Chipre decidiu ontem que a banca do país precisa de reabrir portas esta manhã, depois de duas semanas de fecho forçado, o que acontecerá quando forem 10h em Lisboa. Os cidadãos e empresas locais estão sedentos de liquidez e de confiança no sistema financeiro, sendo por isso imprevisível o que poderá ocorrer quando os balcões reabrirem as portas: “Não espero que haja uma corrida aos bancos”, comentou ontem ao final do dia Afxendis Afxendiou, ex-governador do banco central cipriota. O anúncio da reabertura dos bancos foi conhecido às 18h de ontem. “Vai dar tempo para que as pessoas pensem se vão correr ao banco mal possam”, comentava por seu turno o blog do “The Guardian” dedicado ao acompanhamento da crise cipriota. Todas as medidas de controlo de capitais aprovadas, aliás, são precisamente para evitar uma corrida aos bancos. Contudo, com milhares de cidadãos e empresas limitados a 100 euros diários, é difícil prever o que sucederá. Ontem à noite, a televisão estatal de Chipre noticiou que dois camiões do BCE carregados de euros chegaram ao país para reforçar o banco central.
CIPRIOTAS CONTRA À imagem do que ocorreu quando foi conhecido a versão inicial do Eurogrupo para a situação de Chipre - cortar depósitos -, os cipriotas continuam a manifestar-se contra as imposições de Bruxelas, que marcaram uma versão totalmente nova dos resgates mais exigentes levados a cabo na Grécia ou Portugal. Milhares de cipriotas foram ontem para a rua condenar o compromisso “assassino” fechado entre Bruxelas e Nicos Anastasiades, presidente cipriota, entoando “Exo i Troika tora” - livremente traduzido por “Troika vai-te embora” - ao ritmo do Seven Nation Army dos White Stripes.