Por Sandra Almeida Simões, in iOnline
Para a Organização, os países do euro devem interromper política de sacríficios, mesmo que as metas do défice não sejam alcançadas
As medidas de austeridade devem terminar na zona euro, mesmo que isso implique não cumprir as metas traçadas. Mais do que um alerta, este foi o conselho deixado ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Na avaliação económica intercalar, a OCDE defende ainda que a zona euro deve mostrar mais “flexibilidade” na redução dos défices. Até porque, diz a OCDE, a economia global está a recuperar, mas a crise do Velho Continente está a atrasar a real recuperação da economia global, diz a OCDE.
Os limites para os sacrifícios pedidos aos europeus é uma matéria que tem suscitado diversos tipos de posicionamento. A postura da OCDE vai, por exemplo, de encontro à posição de José Sócrates no seu regresso após dois anos de silêncio. Em entrevista à RTP na quarta-feira, o anterior primeiro-ministro defendeu que o actual governo está a cometer um “erro económico e político seríssimo” ao não pôr travão à austeridade. “A imagem que me ocorre quando vejo o que se passa é que o governo se meteu num buraco e acha que o que deve fazer é começar a escavar. E eu digo: parem de escavar. Parem com a austeridade. Paremos com esta loucura”, afirmou (ver páginas 16-19).
A previsão da OCDE para a taxa de crescimento do G7 (as sete maiores economias do mundo ocidental) aponta para uma desaceleração do ritmo de expansão de 2,4% no primeiro trimestre para 1,8% no segundo.
“A economia global enfraqueceu no final de 2012, mas as perspectivas estão a melhorar para as economias da OCDE. A acção política corajosa continua a ser necessária para garantir uma recuperação mais sustentável, particularmente na área do euro, onde o crescimento é desigual e continua mais lento do que em outras regiões”, afirmou Pier Carlo Padoan, economista-chefe da OCDE, ontem em Paris.
A organização estima que as três maiores economias da zona euro - Alemanha, França e Itália - vão crescer 0,4% no primeiro trimestre e 1% no segundo trimestre, mas alerta “para mais uma divergência entre o crescimento da Alemanha e das restantes economias do euro”.
A economia alemã deverá crescer 2,3% no primeiro trimestre e 2,6% nos três meses seguintes. Já para o PIB francês é expectável uma contracção de 0,6%, seguida de uma recuperação de 0,5% no trimestre seguinte. “Continua a ser necessária a intervenção governamental para assegurar uma recuperação sustentável, especialmente na área do euro onde o crescimento é desequilibrado e continua a ser mais lento que nas outras regiões.”
Para a OCDE, a elevada taxa de desemprego registada em grande parte da Europa é “um problema verdadeiramente sério nesta altura”. “A situação do emprego continua a deteriorar-se em muitos países, o que torna ainda mais urgente a aplicação de reformas no mercado de trabalho que possam estimular o crescimento e criar empregos”, afirmou.
Apesar deste cenário, a OCDE acredita que as reformas estruturais adoptadas nos países do sul da Europa - Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - constituem uma base “sólida” para a recuperação do emprego e da competitividade.
Os países emergentes serão o motor da economia mundial, numa altura em que se prevê um crescimento moderado nos Estados Unidos (crescimento de 3,5% no primeiro trimestre) e uma aceleração nipónica ainda insuficiente (3,2%).