26.3.13

Governo admite desemprego acima dos 18% durante 3 anos

por Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo

Vítor Gaspar e Pedro Passos Coelho, ministro das Finanças e primeiro-ministro de PortugalO desemprego recorde veio para ficar, anda a dizer o Governo aos investidores internacionais a quem está a tentar vender dívida pública. A respetiva taxa ficará acima de 18% da população ativa até 2015, inclusive. Ou seja, o país terá cerca de um milhão de desempregados durante este período, pelo menos.

O cenário macroeconómico completo que saiu da sétima avaliação da troika a Portugal, disponível na nova apresentação do IGCP (Agência da Dívida Pública) a investidores, mostra que a economia vai marcar passo nos próximos anos. Depois de três anos consecutivos de recessão, a retoma virá muito fraca: 0,6% de aumento do produto interno bruto (PIB) em 2014 e 1,5% em 2015.

O desemprego, que Vítor Gaspar descreve como sendo “um flagelo pessoal, familiar e social” e “uma das experiências mais traumáticas que alguém pode ter”, não vai aliviar para níveis pré-ajustamento da troika.

Segundo o novo cenário, o peso das pessoas sem trabalho no total de ativos chegará a 18,2% este ano, a 18,5% no próximo e a 18,1% em 2015, num contexto de fraca recuperação da variável que mais podia ajudar a aliviar a crise do mercado de trabalho: o investimento, que em termos reais acumulados irá cair 45% de 2008 a 2013, apenas vai subir 2,5% em 2014 e 5,4% no ano seguinte.

As exportações, o “motor da economia portuguesa”, vão estagnar este ano. Em 2014, o Governo conta com mais 4,4% de vendas ao exterior e com mais 4,7% em 2015.

Do lado do Estado, o contributo para a dinâmica da economia será sempre negativo: o consumo público (os gastos correntes do sector público, como remunerações, despesas com consumíveis e prestações de serviços) continuará a ter um impacto prejudicial na retoma: este ano cai 2,6%, no próximo 2% e em 2015 recuará 1,9%.

Finalmente, o consumo das famílias. A inversão da tendência negativa acontece em 2014, mas com significado mínimo. Neste ano sobe 0,1%; em 2015 apenas 0,9% em termos reais.

Na nova apresentação a investidores (86 páginas, em pdf), o IGCP também passa em revista alguns dos “sucessos” do programa de ajustamento. “As reformas dos mercados de trabalho e de produto combinadas podem ter um impacto positivo no PIB per capita de 6% no médio prazo”, lê-se no documento. Se em cinco anos pode existir esta retoma, dentro de dez o efeito deverá ser ainda maior: “14%” de subida na riqueza por habitante.

A apresentação não se debruça sobre as elevadas incertezas que envolvem os atuais exercícios de projeção, que tanto surpreenderam FMI, Comissão Europeia e Governo (no caso da explosão do desemprego, segundo referiram estas autoridades).

A única menção ao risco que paira sobre o ajustamento do sector público tem a ver com a dívida das empresas públicas que ainda falta assumir no rácio oficial que já vai em 123% do PIB.

Para a agência do governo, apesar de existirem ainda 9,6% do PIB (cerca de 16 mil milhões de euros) em dívida fora do menu, o risco é “reduzido” já que “um número significativo de empresas públicas fora do perímetro orçamental vão ser vendidas no âmbito do programa de privatizações”. É o caso da Parpública, do grupo CP e do grupo Águas de Portugal, só para citar os casos mais relevantes.

O presidente do IGCP, João Moreira Rato, e a secretária de estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, viajam esta semana pela Europa para vender o lado bom da economia e dívida pública a investidores estrangeiros. O ministro das Finanças está a fazer o mesmo, mas nos Estados Unidos.