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O secretário-geral do Instituto de Apoio à Criança afirmou hoje que não é com mais polícias, nem com mais cadeias que se combatem os fenómenos da delinquência, nomeadamente a juvenil, que aumentou 2,9% em 2012 face a 2011.
"Não é com mais polícias, nem com o aumentar das cadeias que se combatem o fenómeno da delinquência em geral, nem da delinquência juvenil", disse Manuel Coutinho à agência Lusa a propósito do Relatório de Segurança Interna (RASI) de 2012, segundo o qual foram registados 2.035 casos de delinquência juvenil, crimes praticados por jovens os 12 e os 16 anos, mais 1.037 do que em 2011.
Em 2009 tinham sido assinalados 3.479 casos, que subiram para 3.880 em 2010 e desceram para 1.978 em 2011.
Para o secretário-geral do IAC, há uma grande preocupação com os crimes cometidos por jovens, mas pouca pelos motivos que os levam a ter esses comportamentos.
“Preocupamo-nos muito com os crimes e pouco com as causas, mas sem causas, não há crimes”, disse Manuel Coutinho, defendendo a necessidade de “atuar nas causas em vez de atuar nos crimes”.
Dos mais de 2.700 telefonemas feitos para a Linha SOS Criança em 2012, 78 eram relativos a comportamentos delinquentes, mais 66 relativamente a 2011.
Para o psicólogo clínico, é importante que todos coloquem “a lupa em cima daquilo que é o mais importante, a prevenção”.
“Se conseguirmos dar o mais cedo possível às crianças segurança, tranquilidade e um bom modelo educativo, certamente essa criança vai ser um jovem mais integrado, mais responsável e isto passa principalmente pelo afeto, pelo apoio às famílias e pela disponibilidade que os pais têm para dar aos filhos e tudo por uma política baseada na educação”, defendeu.
Manuel Coutinho sublinhou que se o modelo educativo transmitido for “adequado e ajustado, as crianças vão crescendo de uma forma serena, mais completa e vão tranquilamente aprendendo a demarcar os seus próprios limites e a respeitar os outros”.
Disse ainda que “os pais devem ensinar aos filhos a transformar o princípio do prazer em princípio da realidade”.
“O facto de estarmos a transmitir às crianças que tudo é possível e que vivem para ter e não para ser, é negativo”, afirmou, defendendo que as crianças têm de ser educadas a aprender a esperar e “a perceber que as coisas se merecem e se conquistam”.
Quando isso não acontece, a criança chega à adolescência e percebe que “está impossibilitada de uma forma natural de satisfazer os seus caprichos ou contrariedades e, por vezes, tem comportamentos disruptivos, de violência, de agressividade e de subtração de bens a outros”.
Segundo Manuel Coutinho, estes comportamentos por parte dos jovens são transversais a todos os grupos socioeconómicos.
“O que está por detrás disto não é o poder económico dos pais, mas a capacidade de gerar indivíduos bem formatados, respeitadores e com resistência à frustração”, justificou.
Traçando o perfil destes menores, o psicólogo disse que “são jovens que normalmente não estão habituados a sofrer privações, que não têm respeito por si próprios, nem pelos outros” e que não percebem que é preciso esperar um tempo para obter uma coisa.
“Temos de voltar apostar na qualidade das relações humanas para que as crianças se sintam seguras, amadas, estimadas e para não terem necessidade de ter sistematicamente comportamentos disruptivos, inadequados e impróprios de desrespeito pelos outros e por si próprios”, acrescentou.