in Jornal de Notícias
Oito em cada 100 inquiridos num estudo da associação Deco tiveram de demitir-se ou pediram licença do trabalho para tomar conta de um familiar idoso que aguardava por uma vaga numa instituição da terceira idade.
Quase um milhão de idosos não consegue ou tem muita dificuldade em realizar atividades como comer, andar ou cuidar da sua higiene, sendo o lar encarado como a "única opção" para muitos deles e para as suas famílias.
"Mas a espera por cama, comida e roupa lavada pode ser longa", refere o inquérito da Deco/Proteste, segundo o qual um em cada dez idosos esteve cerca de um ano em lista de espera para entrar num lar e 5% mais de três anos.
O estudo, que decorreu há um ano em Portugal, na Bélgica, na Espanha e em Itália, e que envolveu 690 portugueses com familiares utentes de lares, refere que 40% dos participantes admitiram fazer sacrifícios para apoiar o familiar enquanto esperava uma vaga na instituição.
Enquanto aguardavam, 38% dos participantes optaram por tratar do idoso, 30% contrataram uma pessoa ou serviços privados, 26% limitaram-se a esperar, 15% instalaram o familiar temporariamente noutro lar e 14% recorreram a serviços públicos ao domicílio.
Um em cada dez inquiridos deixou o idoso internado num hospital até ter lugar no lar.
"Trata-se de um encargo que o Serviço Nacional de Saúde não deveria ter de suportar, para além de que as camas de hospital já são poucas para os doentes que realmente precisam delas", adverte o estudo, publicado na revista "Teste Saúde", esta terça-feiraa.
Dois terços dos inquiridos tentaram encurtar o tempo de espera, com 30% a reclamarem junto do lar e 56% a admitirem ter recorrido a "cunhas".
Alguns mentiram, dizendo que o estado de saúde do idoso era mais grave do que na realidade, e uma minoria revelou ter oferecido dinheiro a funcionários do lar para obter vaga.
Cerca de um terço dos inquiridos queixou-se da falta de transparência nas condições de acesso, com maior incidência nos lares públicos e público-privados, e quase 30% referiram que não havia regras específicas para a entrada no lar ou lista de espera.
Mais de 40% consideraram "bastante complexo o processo de admissão em lares públicos e público-privados".
Apesar de a maioria estar satisfeita com o serviço do lar, há aspetos que mereceram desaprovação, como a falta de atividades de lazer (44%) e de profissionais (37%).
Quatro em cada 10 inquiridos apontaram ter havido algum problema relevante, sendo o mais frequente (25%) o desaparecimento de bens pessoais, seguindo-se os maus-tratos verbais (18%) e físicos (6%) por parte dos funcionários, bem como acidentes provocados por negligência destes (15%) ou falta de segurança nas instalações (9%).
A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, que representa quase 2700 entidades, 1300 das quais com lares, estima que existam cerca de 10 mil idosos em lista de espera.