por Sónia Graça, in Sol
Nunca tantas casas foram assaltadas em Portugal. No ano passado, quase mil residências foram roubadas.
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), divulgado esta semana, indica que a criminalidade violenta desceu 7.8%, mas aquele crime foi uma das excepções mais preocupantes.
Ao todo, a Polícia investigou 995 roubos em residências em 2012, mais 36% do que em 2011 – o que equivale a uma média de três casos por dia. Em 2010, ano em que se iniciou a contabilização do fenómeno, as autoridades registavam 682 ilícitos.
Não foi por acaso que no ano passado o Governo elegeu este crime como prioritário, mas a verdade é que as polícias não estão a ganhar este combate.
O alarme começou no Algarve quando em 2009 gangues armados do Leste da Europa começaram a invadir moradias com uma violência nunca vista. Desde então, o fenómeno rapidamente alastrou às grandes cidades.
É, aliás, no litoral do país que esta criminalidade atinge maiores proporções. No distrito de Lisboa, foram registados 313 dos 995 assaltos. Logo a seguir, Setúbal concentrou 153 participações, o Porto totalizou 131, Braga 69 e Faro 66.
Foi nos meses de Maio e Dezembro que este crime atingiu o pico das participações – e não no período de Verão, quando os furtos a residências costumam agravar-se, dada a ausência dos proprietários para férias.
Maioria dos roubos são feitos com ameaça
Há, contudo, um ponto semelhante: mais de metade (53%) destes crimes também foram praticados por solitários. «Muitas vezes são indivíduos toxicodependentes ou até vizinhos que conhecem relativamente as vítimas», explica fonte do Sistema de Segurança Interna (SSI), sublinhando que a maioria dos ataques acontece em «zonas mais isoladas e em casas de idosos».
Já esta semana, na madrugada de terça-feira, a mãe do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado viu a casa ser invadida por dois jovens, um deles armado. A dupla terá usado um pé-de-cabra para abrir uma porta traseira da vivenda, situada em Porto de Mós (Leiria). Lá dentro, dirigiram-se ao quarto onde a viúva, de 80 anos, dormia e apontaram-lhe a arma à cabeça. Como não tinha dinheiro, a vítima teve de entregar todos os anéis e artigos em ouro que tinha.
No entanto, na maioria dos casos, não há recurso a qualquer tipo de arma. Em 74% dos 995 roubos registados em 2012, nenhuma arma foi usada: a ameaça física ou psicológica foi suficiente para coagir as vítimas. Apenas em 24% dos casos foi exibida uma arma de fogo ou uma arma branca.
Em contrapartida, em quase todos os roubos consumados, os ladrões não conseguiram arrecadar mais do que 250 euros. Só em 9% das investidas é que os criminosos levaram mais de cinco mil euros em dinheiro ou objectos.
Já os furtos de metais não preciosos – que passaram a ser contabilizados pela primeira vez neste RASI – foram bem mais lucrativos. Cerca de 30% dos 15.171 crimes investigados pela PSP e GNR, renderam entre mil€ e cinco mil euros.
Este fenómeno tem sido protagonizado por «grupos criminosos com elevado grau de preparação, profissionalismo e sofisticação», lê-se no RASI. Basta ver que, em 2012, o Ministério Público abriu 8.213 inquéritos mas deduziu apenas 58 acusações contra 2.424 processos que acabaram por ser arquivados.
A verdade é que, pela primeira vez desde 2008, os crimes contra o património (218.236) diminuíram cerca de 4%. Esta descida contribuiu para a quebra de 2% do total de crimes participados à PSP, GNR e Polícia Judiciária (PJ).
Agressões a polícias e menores dispararam
A mesma tendência se verificou na categoria dos crimes contra as pessoas (86.548), que desceram 5%. Os homicídios fugiram a esta regra. No ano passado, a PJ investigou 149 casos (37 dos quais conjugais), mais 32 do que em 2011.
Também as agressões a polícias subiram: 1.863 agentes foram alvo de resistência e coacção, mais 119 do que há dois anos. Foi o valor mais alto desde 2003. Neste capítulo, houve ainda outros acréscimos dignos de registo. Foi o caso da vida privada e violação de segredo (subiram 24,5%) e dos maus tratos ou sobrecarga de menores (mais 20,3%).