22.3.13

“Não sei se para o ano vou conseguir continuar a estudar”

Mariana Dias, in Público on-line

Por falta de dinheiro muitos temem ter de desistir do ensino superior. Esta quinta-feira manifestaram-se em Lisboa.

"Para a banca dão milhões, para o ensino dão tostões", "Acção social não existe em Portugal", "Propinas e Bolonha são uma vergonha" e a "Troika não manda aqui" – foram as palavras de ordem mais ouvidas na manifestação. Cerca de 400 estudantes do ensino superior caminharam do Marquês do Pombal até à residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa, para exigir um maior financiamento da Educação e apoio aos estudantes.

A manifestação foi convocada por cinco associações de estudantes (AE) – da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do Instituto de Gestão e Ordenamento do Território, da Escola Superior de Educação do Porto, e da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.

Na manifestação estiveram ainda presentes alunos de faculdades que não tinham subscrito o manifesto do protesto. De Coimbra ou do Porto, foram vários os estudantes que faltaram às aulas para se vir manifestar a Lisboa.

Os estudantes manifestaram-se contra os cortes na educação. Entre eles havia quem já teve de pedir um empréstimo ou de arranjar um part-time para conseguir suportar os estudos. E quem apontasse casos de colegas que desistiram de estudar por já não terem dinheiro e de outros que já só fazem refeições à base de cereais, por não terem meios para comer melhor.

Durante a manifestação, falou-se também do aumento das propinas e do decréscimo dos recursos materiais e humanos nas faculdades. Para combater estes e outros problemas, como a recusa de quase metade dos pedidos de bolsa, os manifestantes propõem, com o lema "10% - Eles aguentam, tu estudas!", que se passe a "taxar em 10% os lucros milionários pelo direito a estudar". Com esta medida, os estudantes asseguram que o Estado iria arrecadar 1.665 de euros, o suficiente para responder às necessidades mais imediatas do Ensino Superior.

“Não sei se para o ano vou conseguir continuar a estudar”, diz um estudante de Psicologia, que preferiu não ser identificado. O rapaz de 20 anos já procurou, em vão, trabalho para ajudar a família que diz estar em situação económica difícil: “O dinheiro só dá para pagar as propinas e o passe”.

Ângela, 21 anos, estuda na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Faltou às aulas para vir a Lisboa manifestar-se, com outros 50 colegas, para lutar pelos direitos dos estudantes de enfermagem.

“Somos a faculdade de enfermagem com as propinas mais altas do país”, diz Ângela, acrescentando que têm sido discutida a possibilidade de ser acrescentado um ano ao curso.

Ângela e os colegas são responsáveis não só pelo pagamento das propinas mas também pelo pagamento dos livros – que dizem custar quase 100€ cada um – e ainda das fardas e batas.

Ana Isabel Silva, de 59 anos, reformada, também marcou presença. “Vim pelos estudantes, pelos meus netos, pelo Maio de 68, pelo país, mas sobretudo pela Educação”, justificou.

Ana Silva voltou aos estudos na Faculdade de Letras de Lisboa, onde sente que os alunos têm dificuldades, mas também vergonha e receio em se manifestarem.

O Governo tem de perceber que “os estudantes também têm uma palavra a dizer”, afirmou Sofia Lisboa, a presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais Humanas da UNL.

Já no final da manifestação, afastados da residência oficial do primeiro-ministro para um perímetro de segurança, os estudantes voltaram a evocar as palavras de ordem e, em jeito de despedida, alguns acenaram lenços brancos pedindo a demissão do Governo.