Dina Margato, in Jornal de Notícias
Esta quarta-feira celebra-se pela primeira vez o Dia Internacional da Felicidade. Foi ideia da ONU. Em Portugal, à exceção de uma ou outra iniciativa discreta, não está prevista a evocação da data, apesar de estarmos mal na fotografia. No top europeu, somos os últimos, ao lado da Hungria, Letónia Grécia e Bulgária. No Mundo, ficamos a meio da tabela.
Que hoje não temos grandes condições para sermos felizes ninguém discorda. O sociólogo da Cultura Albertino Gonçalves sublinha "a sorte madrasta" que nos persegue. No entanto, diz o professor da Universidade do Minho, a insatisfação com a vida, um dos índices avaliados se o tema é felicidade, não invalida as experiências de felicidade.
Insatisfeitos, mas peritos em dar a volta. Temos um dom extraordinário para "saborear a felicidade caseira", preferindo-a à "encomendada", prescrita em função de objetivos, porventura mais à medida dos povos nórdicos. "Não é que não haja esta felicidade, temos é maior talento para a extrair espontaneamente".
Feitas as ressalvas - cada um tem perceções diferentes da felicidade -, gaba nos portugueses "a capacidade para ir procurar felicidade onde a encontram. A nossa felicidade é bastante íntima, vivida em família, entre amigos. É bastante ruminada, e é uma felicidade que se vai saboreando aos poucos". E não é de agora o uso deste "truque", como lhe chama.
Esmagados pelas condições externas, "efeito da fraca competência das elites", restam momentos fugazes de bem-estar. "Para quem está sem emprego, em depressão profunda, torna-se difícil encontrar centelhas de alegria".
Falar da felicidade na pobreza é polémico e a psicóloga Leonor Balancho, cujo doutoramento se debruçou sobre o tema, sabe disso. Daí a cautela em explicar as conclusões a que chegou, a partir da análise de 65 residentes em Rabo de Peixe, Açores.
Nesta freguesia pobre, o índice de felicidade foi de 6,6 em 10. "Não é mau". A questão não deve ser olhada pelo lado "pobrete mas alegrete salazarento, mas enquanto aspiração natural para a felicidade".
A receita destes açorianos incluía família, saúde e fé, por esta ordem. Em quarto, vinha o dinheiro. "Percebi que a encontravam em coisas pequenas. Todos nós desejamos ser felizes. Ao que parece, valorizamos o que está ao nosso alcance".