in Diário de Notícias
O presidente do Conselho Económico e Social (CES), José Silva Peneda, escreveu uma carta aberta ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, na qual acusa o governante de parecer querer despertar "fantasmas de guerra" europeus.
A carta de Silva Peneda, publicada hoje no jornal Público, refere-se às declarações de Schauble, que, em entrevista televisiva na segunda-feira, disse que as críticas feitas à Alemanha se devem "à inveja" dos outros países.
"Vossa excelência, ao expressar-se da forma como o fez, identificando a inveja de outros Estados-membros perante o 'sucesso' da Alemanha está de forma subjetiva a contribuir para desvalorizar, e até aniquilar, todos os progressos feitos na Europa com vista à consolidação da paz e da prosperidade, em liberdade e em solidariedade. Com esta declaração, vossa excelência mostra que o espírito europeu, para si, já não existe", escreveu o antigo ministro do Emprego e da Segurança Social.
Silva Peneda lembrou as declarações do anterior presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, que, recentemente, afirmou que os "fantasmas da guerra que [se pensavam] estar definitivamente enterrados, pelos vistos só estão adormecidos" e acusou Schauble de, através das suas palavras, "parecer querer despertá-los".
"Queria dizer-lhe também, senhor ministro, que comparar a atitude de alguns Estados a miúdos que, na escola, têm inveja dos melhores alunos é, no mínimo, ofensivo para milhões de europeus que têm feito sacrifícios brutais nos últimos anos, com redução muito significativa do seu poder de compra, que sofrem com uma recessão económica que já conduziu ao encerramento de muitas empresas, a volumes de desemprego inaceitáveis e a uma perda de esperança no futuro", acrescentou o presidente do CES.
Para Silva Peneda, as declarações de Schauble, ao dizer que "cada um tem de pôr o seu orçamento em ordem, cada um tem de ser economicamente competitivo", fazem com que o governante alemão passe a ser "um dos responsáveis para que o projeto europeu esteja cada vez mais perto do fim".
O antigo ministro português ressalvou que seria "a negação do espírito europeu" que os interesses alemães se sobrepusessem aos europeus, da mesma forma que "não será do interesse europeu o desenvolvimento de sentimentos anti-Alemanha".