Cátia Mateus, in Expresso
938 mil estão em lay-off. Inscritos nos centros de emprego já atingem os 353 mil. Desemprego oculto será muito superior
Os dados do desemprego registado em março pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) só serão conhecidos em detalhe na segunda-feira, mas a informação já partilhada pela ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, mostra que entre 31 de março e 15 de abril os desempregados inscritos aumentaram de 321 mil para 353 mil, mais de 10%. Uma subida sem igual nas últimas décadas, mas que os economistas admitem não espelhe a real dimensão do desemprego atual.
Os dados sobre o número de desempregados inscritos no IEFP são o primeiro indicador oficial sobre o impacto da covid-19 no mercado laboral. Serão necessários outros dados para tirar conclusões, mas Francisco Madelino, economista e ex-presidente do IEFP, admite que mesmo estando ainda abaixo dos níveis de desemprego registados na última crise, em 2008 — 391 mil —, subidas desta ordem, em tão curto espaço de tempo, são atípicas para um fluxo de desempregados que cresce, habitualmente, a um ritmo de 5% a 6% ao mês.
Madelino admite que os números ganhem maior expressão em abril e que ainda não traduzam “a real dimensão do desemprego nacional”. Desde logo porque “há muito desemprego fora do circuito do IEFP que não consta destes dados”. É o caso do relacionado com os trabalhadores temporários, independentes e outros, dispensados pelas empresas mas sem acesso a proteção no desemprego. “Mais de 50% dos desempregados não recebem subsídio”, recorda, admitindo que os dados conhecidos possam pecar por defeito “em largas centenas”.
As previsões que vão sendo conhecidas apontam para isso mesmo. Num inquérito com uma margem de erro de 2%, a Universidade Católica avança que no início do mês, 4% dos trabalhadores tinham já perdido o emprego. “Considerando só o universo dos trabalhadores por conta de outrem seriam 163 mil trabalhadores”, alerta o economista Eugénio Rosa. Números conhecidos quando o FMI traça um cenário de 13,9% de desemprego para o país, o dobro do de 2019.
Ana Mendes Godinho argumenta que o lay-off está a proteger os trabalhadores do desemprego, ao servir de “amortecedor para a destruição de postos de trabalho”. São já perto de 70 mil as empresas que avançaram para lay-off, num universo potencial de 938 mil trabalhadores. Empresas — sobretudo do alojamento, comércio e indústria —, que declararam em fevereiro €950,9 mil milhões em remunerações e que, à luz deste apoio, serão comparticipadas em 70% pela Segurança Social, por um período que pode ir até seis meses.
Mas Francisco Madelino alerta: se é verdade que a medida impediu uma escalada do desemprego, “os números do lay-off também mostram que teremos certamente um cenário de desemprego de dois dígitos pela frente”.