4.5.20

Cenários da Pobreza Global em 2020

Liliana Rodrigues (opinião), in Jnoticias

O impacto da COVID-19 já se sente, em termos económicos, nos países desenvolvidos.

O “The Economist” chamou a esta nova crise de “a próxima calamidade” e assumiu que negligenciámos as consequências desta doença nos países mais pobres. Enquanto na Europa e nos países desenvolvidos podemos fechar as escolas e garantir a segurança das nossas crianças, em muitas regiões africanas a escola é o único sítio onde elas recebem uma refeição. A Universidade das Nações Unidas (UNU), num estudo que publicou em Abril passado, refere que 500 milhões de pessoas, em todo o mundo, correm o risco de serem os novos pobres.

Os estragos desta doença nos países ricos são visíveis, mas serão muito maiores nos países subdesenvolvidos que vivem já em grandes dificuldades. Será uma questão de tempo até que o vírus se espalhe massivamente nos países africanos e na Índia: sem vacina ou cura e sem o distanciamento social, prevê-se que 80% dessas populações sejam infectadas. Daqui decorrerá que 4,4% fiquem gravemente doentes e que um terço precise de cuidados nos serviços intensivos. Estamos a falar de milhares de pessoas doentes que vivem já na pobreza, sem recursos e sem cuidados médicos.

Neste estudo, a UNU mostra que, independentemente dos cenários mais ou menos favoráveis, resultantes das medidas que se tomem na luta contra a COVID-19, a pobreza global irá aumentar, pela primeira vez desde 1990, e que em alguns países essa regressão poderá ser de 10 anos. No pior cenário, os impactos podem levar a que se atinjam os níveis de pobreza registados há 30 anos.

As estimativas do impacto da COVID-19 sobre a pobreza estão a ser realizadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares (IFPRI). A OIT refere que poderão existir entre 9 e 35 milhões de novos trabalhadores pobres (pessoas que sobrevivem com 3,20 dólares por dia) nos países em desenvolvimento em 2020. Para termos uma ideia, o recuo de 1% do PIB global levaria, segundo a IFPRI, 14 a 22 de milhões de pessoas para a pobreza, que teriam de sobreviver com 1,90 dólares por dia.

O desequilíbrio da oferta e da procura, a contracção da produção e a alteração das relações comerciais atingem o consumo das famílias. Se a diminuição do consumo for de 5% pode elevar a contagem de pobres no mundo num intervalo de 80 a 140 milhões de pessoas. Se essa diminuição for de 10%, a pobreza global terá um impacto na vida de 180 a 280 milhões de pessoas. O mesmo estudo indica, num outro quadro, que se a contracção no consumo médio for de 20%, o número de pobres irá situar-se entre os 420 a 580 milhões de cidadãos do nosso planeta.

Os efeitos desta doença são devastadores, mas serão piores se a solidariedade não for a palavra de ordem. Todos são chamados a dar o seu contributo. Os nossos olhos estão colocados sobre os cientistas da área da saúde. É a espera pela vacina e pela cura. No entanto, já padecemos de muitos efeitos secundários desta doença. Enquanto a vacina não chega, seria importante cada governo de cada país ou região chamar a si uma equipa multidisciplinar (médicos, enfermeiros, empresários, especialistas das ciências naturais, sociais e humanas, etc.) que, numa lógica de trabalho colaborativo, os aconselhe, os oriente e lhes dê todos os dias os cenários possíveis de actuação, de forma a garantir que as decisões sobre o futuro de todos nós sejam tomadas de forma inteligente e que as responsabilidades sejam partilhadas.

#fiqueemcasa #useamascara

Estamos juntos.