Por Revista Dignus
Entrevista de Manuel Teixeira Veríssimo, presidente do Colégio da Competência de Geriatria da Ordem dos Médicos, à Just News, a propósito do XVIII Curso de Pós-Graduação sobre Envelhecimento.
“Numa sociedade com cada vez mais idosos e, consequentemente, com maior prevalência de doença crónica e incapacidade, é fundamental que os profissionais de saúde tenham também mais formação em Geriatria”, defende Manuel Teixeira Veríssimo, presidente do Colégio da Competência de Geriatria da Ordem dos Médicos, em entrevista à Just News a propósito do XVIII Curso de Pós-Graduação sobre Envelhecimento.
O evento, que vai decorrer nos dias 24 e 25 de setembro, em Coimbra, destina-se aos profissionais que lidam diariamente com os desafios dos mais velhos. Estão envolvidas na sua organização a Unidade Curricular de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, a Unidade de Geriatria do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e a Associação Estudo e Investigação em Geriatria e Nutrição Clínica.
Para o responsável, esta reunião, que reúne todos os anos mais de mil participantes, é mais uma forma de promover a formação numa área em que a mesma “é tão essencial”.
Manuel Teixeira Veríssimo justifica: “Os idosos têm determinadas particularidades e é fundamental dotar os diferentes profissionais que lidam diariamente com os mais velhos com conhecimentos em Geriatria. Somente assim se conseguirá dar a resposta mais adequada às suas necessidades”.
Especialista em Medicina Interna com competência em Geriatria, o médico sublinha que o envelhecimento da população não pode ser um flagelo: “O aumento da esperança média de vida é uma conquista do nosso tempo, mas não podemos manter tão elevada carga de doença e de incapacidade nos últimos anos de vida como se verifica, particularmente, em Portugal”.
“Há cada vez mais médicos que se interessam pela Geriatria”
Manuel Teixeira Veríssimo sublinha que “é preciso conhecer as especificidades da doença nos mais idosos, que não são iguais às dos adultos, o que se nota em diferentes aspetos, como na farmacologia. A dosagem não pode ser idêntica à do adulto, devendo ser adaptada face aos riscos inerentes à idade e às comorbilidades”.
Este tipo de resposta mais adequada exige, assim, uma maior aposta em iniciativas formativas. “Felizmente, nos últimos anos, temos assistido a um aumento das mesmas, assim como a um maior interesse por parte dos mais novos relativamente a questões relacionadas com o envelhecimento da população. Isso é fundamental, principalmente numa época em que testemunhamos o aumento da longevidade e a diminuição da taxa de natalidade”, refere.
Para o internista, na terceira e na quarta idade existe uma mudança de paradigma: “Estamos habituados a pensar na Medicina para curar, contudo, à medida que a idade avança, cura-se menos e cuida-se mais”. E faz questão de explicar que “este ato de cuidar é essencial para que um idoso possa viver os últimos anos de vida de forma mais saudável e com maior qualidade, independentemente de ter ou não determinada patologia crónica”.
A Geriatria tem, na sua opinião, um papel cada vez mais relevante: “Trata-se de uma competência, transversal a todas as especialidades, que contribui grandemente para esse cuidar e para uma longevidade com qualidade de vida”.
Questionado sobre a evolução da Geriatria em Portugal, considera que foram dados alguns passos importantes nos últimos anos. “Vimos reconhecida, pela Ordem dos Médicos, a competência e criou-se o respetivo Colégio, além de já terem sido criadas consultas e até unidades de Ortogeriatria, que permitem dar apoio a estas pessoas mais velhas”, afirma.
Manuel Teixeira Veríssimo realça o empenho dos mais novos: “Há cada vez mais médicos – e não só – que se interessam e que estão envolvidos em projetos na área da Geriatria em hospitais públicos. Isto demonstra que podemos ter esperança no futuro desta área da saúde”.
Mas estes avanços não são ainda os ideais, pois, “faltam unidades de Geriatria e centros de excelência que permitam aos interessados fazer formação e estágios, como já acontece noutros países”.
“O ideal é manter o idoso em casa sempre que seja possível”
Focando-se na qualidade de vida e na longevidade, Manuel Teixeira Veríssimo não se quer cingir apenas à doença. A prevenção é outro ponto que não pode ser protelado: “Mais do que remediar, é preciso apostar no envelhecimento ativo. Isso já vai acontecendo, nomeadamente com o apoio dos municípios, e espero que se mantenham em curso as várias iniciativas que ajudam os mais velhos a ter uma vida mais saudável no presente e no futuro”.
Nesse sentido, é necessário, na sua perspetiva, reforçar a integração de cuidados, “não apenas entre os cuidados primários e os secundários, mas com a própria sociedade civil”.
Em setembro, no XVIII Curso Pós-Graduado de Envelhecimento, além destes temas, vai falar-se também de patologias crónicas, de fraturas, de doenças de pele, de maus-tratos, da importância dos animais de estimação, de telemedicina e das novidades no apoio aos idosos.
Fonte: www.justnews.pt/noticias/-medida-que-a-idade-avanca-curase-menos-e-cuidase-mais/#.XtZm6lVKi70
Créditos imagem: Nuno Branco