4.8.08

Aprendizagem lenta mas sem currículos alternativos

in Jornal Público

A escola de primeiro ciclo e jardim-de-infância n.º 7 irá manter-se, no próximo ano lectivo, nas instalações do Regimento de Infantaria n.º 3. Em 2007/2008 foi frequentada por 123 alunos no ensino básico e 40 crianças no pré-primário. Deste conjunto de crianças, mais de 60 por cento são de etnia cigana, factor que obriga os docentes a leccionar um sistema de ensino que não "deve socorrer-se dos mesmos manuais que são utilizados no ensino oficial", realça Maria Emília Cabrita.

O método passa pela "diversificação dos conteúdos e sem esquecer a cultura cigana", analisa a docente, frisando que os rapazes e raparigas desta etnia aprendem a ler "a partir das suas vivências". A docente guarda um volumoso dossier com mais de uma centena de textos escritos pelas crianças nos últimos três anos. O seu conteúdo começa com frases muito simples: "Eu fui hoje ao Modelo comprar comida". Consoante os anos vão passando, os textos são mais elaborados e desenvolvidos e têm muito a ver com a vida na comunidade. No "Natal dos ciganos" contam, por exemplo, a festa ao pé do canil, onde "fizeram uma fogueira e dançaram à roda dela". Não se esquecem de contar o que comeram e que os adultos "beberam muito e embebedaram-se".

Não têm livros. Trabalham com base em fotocópias com recolha de textos feitos por eles e que funcionam como livro. "A experiência diz-me que os ciganitos não têm um timing para aprender a ler e a escrever", observa a docente, para revelar que "muito poucos terminam a escolaridade do primeiro ciclo nos quatro anos": "Temos de partir da palavra para a sílaba e desta para a letra". Apesar do método impor maior lentidão, vão "adquirindo conhecimentos e competências". As regras oficais, no entanto, acabam por se impor no final. No quarto ano, as crianças ciganas "têm de fazer a mesma prova que as outras". O Ministério da Educação não oferece currículos nem manuais alternativos. C.D.