José Augusto Moreira, in Jornal Público
Ligeira melhoria dos indicadores, associada ao aumento das exportações, não chega para sair da cauda do rendimento nacional
Pelo segundo ano consecutivo, o Norte cresceu mais do que o resto do país, mas a crua realidade estatística mostra que a região continua bem destacada na cauda do rendimento nacional. Perante a evolução dos números resultante dos dados esta semana divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), Carlos Lage, pede "uma atenção redobrada por parte do Governo para a região", entendendo que, com isso, o executivo "não faz nenhum favor ao Norte".
Além de, pela primeira vez nos úl-timos cinco anos, apresentar um crescimento superior ao de Lisboa, as contas regionais de 2006 mostram que o Norte representa 28,1 por cento do produto interno bruto (PIB) e é responsável por 42 por cento das exportações nacionais, concentrando ainda 37 por cento da população do país. Números que, só por si, evidenciam o papel determinante que desempenha no contexto nacional, mas Carlos Lage entende também que, "pelos sinais dados pela economia e pelo perfil do seu tecido produtivo, o Norte pode muito bem vir a ser o motor para a desejada recuperação da economia". O presidente da CCDRN, que ontem decidiu comentar os números divulgados pelo INE, frisou que, apesar de estes serem ainda provisórios e da escassez de dados de que dispõe, tudo aponta para que o relativo bom desempenho da economia nortenha tenha uma correspondência directa com o incremento das exportações, que em 2006 cresceram sete por cento a nível nacional.
Uma conclusão que se conjuga com o facto de este aumento não ter idêntica correspondência nos números apresentados pela região da Lisboa, cujo PIB per capita cresceu abaixo das regiões do Norte (1,1 por cento) e do Centro (um por cento). "Talvez se possa concluir que Lisboa é uma região mais consumidora, que não é a região motora e não puxou pela economia do país em 2006", disse Carlos Lage, contrapondo-a ao perfil empresarial do Norte, que classificou como "a pátria das pequenas e médi-as empresas" e que "é responsável pela maior fatia produtiva e exportadora do país".
Por outro lado, o presidente da CCDRN explicou que houve uma forte contenção nas despesas do Estado e que Lisboa é que mais beneficia com os gastos públicos, o que evidencia que o Norte depende sobretudo dosector produtivo e cresce mais quando aumentam as exportações, enquanto o crescimento do rendimento da região da capital está mais associado ao investimento público e ao facto de ali estar instalado o sector financeiro e também o grosso dos quadros mais bem pagos do país.
Contra a lamúriaApesar dos ténues sinais de melhoria, o Norte continua na cauda do rendimento nacional e em acentuada divergência com a média da União Europeia. Carlos Lage rejeita, no entanto, a ideia de uma região pobre, atrasada e em declínio, e o tom de lamúria que tem sido adoptado por alguns sectores políticos e económicos. No seu entender, a situação da re-gião explica-se, em grande parte, pelo facto de "ter sido a mais fustiga-da pelas mudanças na economia e no modelo do sector produtivo", ao que se junta um "défice educativo que radica nas dificuldades da transformação da sociedade rural numa estrutura urbana". Tal como aconteceu com outras regiões da Europa, "que se reinventaram para sair destas situações", o mais importante é "apelar ao potencial regenerador". Para isso, defendeu, é fundamental "um diagnóstico e uma visão política compartilhada que envolva o Governo, autarquias, empresas e centros e conhecimento", com o objectivo de relançar a economia e modernizar o sector exportador.
42% das exportações nacionais do ano de 2006 tiveram origem na Região Norte, período em que cresceram sete po cento 66% da média do rendimento nacional para a sub-região do Tâmega, que é a mais desfavorecida do país.