Ana Bela Ferreira, in Diário de Notícias
Relatório. No primeiro semestre, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa recebeu 51 queixas relativas a violência sobre idosos. Os dados servem para conhecer a realidade de um tipo de crime que o PGR considerou de investigação prioritária. Casos com tendência para aumentar, segundo a APAV
Durante os primeiros seis meses do ano, registou-se uma média de dois idosos por semana vítimas de violência, de acordo com dados oficiais do Ministério Público divulgados pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Ao longo do primeiro semestre, foram abertos 51 inquéritos relativos à violência contra idosos, um número muito próximo dos 57 casos de violência registados no meio escolar. Dois fenómenos considerados de investigação prioritária pela Lei de Política Criminal e para os quais o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, chamou a atenção em Janeiro. Dos 51 casos de violência contra idosos registados, 22 aconteceram no primeiro trimestre e os outros 29 no segundo.
Entre as 12 comarcas do distrito judicial de Lisboa, Almada é a que apresenta o maior número de queixas: 11 (ver caixa). Torres Vedras, com 9, e Lisboa, com 7, fecham o grupo dos três concelhos com maior número de casos. Do lado oposto, sem casos de violência contra idosos, estão Cascais, Angra do Heroísmo e Oeiras. O DN tentou contactar a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, a fim de obter mais esclarecimentos em relação aos dados, mas os responsáveis encontram-se de férias.
26% são vítimas dos filhos
O cônjuge ou companheiro é o agressor mais frequente dos idosos, segundo os dados de 2007 da Associação de Apoio à Vítima (APAV), somando um total de 29,1%. No entanto, um grande número, 26,4%, é vítima dos próprios filhos. No ano passado, a APAV registou 656 casos de violência contra idosos.A residência partilhada com o agressor é o espaço em que mais ocorrem as agressões (59,7%), logo seguida da casa da vítima (25,6%). No total, apenas 12 casos, ou seja, 2,3%, tiveram lugar em lares ou instituições de acolhimento. Números que não surpreendem o vice-presidente da APAV, João Lázaro. "A família é um espaço de amor, mas também de é grande violência", alerta.O dirigente da associação frisa que "a violência sobre os idosos é muito escondida e calada". Embora não existam ainda dados de 2008, João Lázaro acredita que a tendência é para um aumento sustentado. A violência financeira é outra face dos atentados contra este grupo etário. Paula Guimarães, da APAV, explica ao DN que "em Portugal existe a ideia de que o património do idoso é da família e a partir de uma certa idade esta faz tudo para administrar os seus bens, atropelando a lei".