Helena Teixeira da Silva, in Jornal de Notícias
Duas mães adolescentes:uma está num plano de inserção; a outra não. Na prática, que diferença faz?
O sentido de responsabilidade de Joana Antunes não condiz com a idade: tem 19 anos, uma filha de 24 meses. Mãe adolescente, mulher independente.
Órfã de pai, libertou o namorado para que ele, ainda imberbe, não se visse privado da juventude para tratar do bebé. Ele ajuda-a, mas não vive com ela. Estão bem assim. "Não gosto de incomodar pessoas, nem gosto de andar sempre a pedir coisas. A vida não é fácil para ninguém, mas ninguém tem culpa das minhas opções. Decidi ter a minha filha, agora só tenho que trabalhar para lhe dar o melhor que puder e souber".
Joana vive na Baixa do Porto, numa casa recuperada pela Câmara, que lhe custa, todos os meses, 300 euros. Quando há dois anos solicitou o Rendimento Social de Inserção (RSI) atribuíram-lhe cerca de 400 euros. Quando a filha completou o primeiro ano, subtraíram-lhe 85 euros. Nessa altura, ela começou "a fazer limpezas e a passar a ferro para fora".
Há três meses, no âmbito do plano de inserção, foi integrada numa escola, onde recebe 350 euros. Isto significa que o RSI ficou reduzido a 99 euros. Contas pagas, quanto sobra? "Cerca de 140 euros. Mas sempre consegui fazer tudo sozinha, não é agora que vou desistir", atira com com uma coragem desarmante. O quotidiano de Joana não tem segredos: acorda às sete da manhã, deixa a filha no infantário às oito, às nove já está na escola. Despega às cinco da tarde, vai buscar a filha às seis, às sete regressa a casa. É assim todos os dias; todos os dias sozinha.
O programa ocupacional acabará em Março de 2009. E ela já anda atenta às soluções, mas não é fácil. "Tenho o 9º ano, gostava de completar o 12º. Mas sem subsídio, como posso voltar à escola?" Também gostava de fazer um curso técnico, mas as inscrições, diz, são sempre para maiores de 23 anos. Restar-lhe-á procurar emprego. "Gostava de continuar a fazer o que faço: trabalhar numa escola. Mas sei que dificilmente será esse o meu futuro".
A irmã de Joana tem um percurso idêntico. A diferença maior residirá no facto de ainda não ter sido integrada num plano de inserção, apesar de receber o RSI há mais de um ano. Cátia Antunes, 21 anos, também foi mãe adolescente. Tem dois filhos, com três e um anos, e separou-se do pai das crianças. Enquanto conseguiu trabalhou na Pizza Hut e em centros comerciais.
Agora está "presa", porque o filho mais novo ainda não está no infantário. Depois de paga a renda de casa, sobra a Cátia, por mês, cerca de 180 euros.