Joana Azevedo Viana, in Jornal Público
Oposição critica decisão, considerando-a "inútil e ineficaz", Governo diz que presença dos militares é "dissuasora"
Soldados italianos patrulham desde ontem as ruas de algumas das principais cidades transalpinas, menos de uma semana após o Governo ter promulgado a polémica mobilização.
Cerca de um milhar de militares estão já a ajudar a polícia, mas ao todo serão mobilizados três mil soldados: mil para garantir a segurança nas ruas, outros mil para guardar edifícios sensíveis - embaixadas, consulados ou alguns monumentos, como a Catedral de Milão - e ainda um milhar para a proteger os centros de detenção de imigrantes ilegais, como o da ilha de Lampedusa, um dos principais pontos de chegada a Itália dos imigrantes que atravessam clandestinamente o Mediterrâneo. Roma, Milão, Turim e Palermo foram as primeiras cidades a receber tropas, no quadro de uma operação que deverá prolongar-se por seis meses.
Em Roma, a pedido do presidente da câmara da cidade, os soldados não se aproximarão de alguns dos grandes monumentos, como o Coliseu ou o Panteão, para não "assustarem os turistas" nos meses com maior registo de visitas a estes locais.
O ministro da Defesa italiano, Ignazio La Russa, afirmou à Reuters que a medida "não é uma militarização das cidades, mas antes uma resposta clara à crescente necessidade de mais segurança". O actual prefeito de Milão mostrou-se agradado com a presença das tropas, que, diz, vêm libertar a polícia. O ministro da Defesa, Ignazio La Russa, sublinhou o papel dissuasor da medida: "Os cidadãos sabem que a simples presença dos militares é em si mesma dissuasora", afirmou, citado pela Reuters.
A oposição de centro-esquerda afirma que a medida afugenta os turistas e que dá uma imagem de insegurança e de incompetência policial.
O ministro-sombra do interior, Marco Minniti, afirmou ontem que "esta é uma operação de cosmética que corre o risco de se virar contra si". Achille Serra, antigo prefeito de Roma, e actual senador do centro esquerda, classificou a medida como "inútil e ineficaz". Em entrevista a um jornal italiano, o deputado sublinhou que "não estamos em Beirute [um dos locais onde existem actualmente tropas italianas em missão fora de portas]", perguntando-se como é que um soldado reagirá a um assalto ou a um roubo. Medida simbólica?
O uso de militares italianos para este fim não é inédito em Itália. Em 1992, depois das mortes dos advogados antimáfia Paolo Boserllino e Giovanni Falcone, 20 mil soldados patrulharam a Sicília. O antigo chefe do Exército, Mario Buscemi, considerou por isso, em declarações ao diário La Repubblica, que esta operação é simbólica: "Em 1992, só para a Sicília, havia 20 mil soldados. Hoje, para toda a Itália, há três mil. É claro que o apoio que possam dar às forças policiais é basicamente simbólico.
"No mês passado, Silvio Berlusconi declarou o estado de emergência no país, de forma a aumentar os poderes da polícia e das autoridades locais em questões relacionadas com imigração. O Governo Berlusconi culpa os imigrantes, em particular os de etnia cigana, pela criminalidade e avançou várias medidas para combater a imigração ilegal. Entre estas contam-se o aumento das penas de prisão para crimes cometidos por imigrantes ilegais ou a possibilidade de as autoridades confiscarem apartamentos alugados por imigrantes clandestinos.A política de imigração do Executivo italiano já foi criticada pelo Vaticano, por grupos de defesa dos direitos humanos e por algumas instituições europeias, receando que estas possam desencadear reacções xenófobas.