in Agência Financeira
Patrão do comércio e serviços contra medidas de austeridade desnecessárias, teme rutura social
O desemprego vai atingir um milhão de pessoas no nosso país já no outono, alerta o presidente da Confederação de Comércio e Serviços de Portgal.
Em entrevista ao «Diário de Notícias» e à TSF, João Vieira Lopes responsabiliza os governos de Sócrates e de Barroso pela desregulação do mercado e avisa o atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, de que esta austeridade ameaça provocar situações de rutura social. O caminho, diz, tem de começar a ser outro.
Por isso mesmo, não concorda com medidas que não sejam essenciais e que retirem capacidade de compra aos portugueses.
«Este governo encara com alguma naturalidade uma retração do mercado interno que nós consideramos que é excessiva, porque não acreditamos que o relançamento possa ser feito nessa base», explicou, acrescentando que as «críticas e dúvidas» que a confederação tem vêm daí.
Portugal é uma panela de pressão
«Portugal é uma panela de pressão, que provavelmente resiste mais do que outras, mas se o Governo não for capaz de encontrar equilibrios sociais na austeridade e na saída da crise, correm-se sérios riscos de haver uma rutura social», alerta.
Uma das críticas do representante dos patrões à atuação do Governo, que considera ser «um dos pontos fracos» do executivo, tem a ver com o atual acordo de concertação social.
«Quando o acordo começou a ser posto em prática, as medidas ligadas ao aspeto laboral, que são importantes e positivas, não foram acompanhadas no seu ritmo das restantes, e daí a nossa apreensão», sublinha.
Pelo contrário, deixa um elogio ao trato fácil dos atuais governantes. «Este governo, face aos anteriores, tem sido mais fácil em termos de relacionamento pessoal. É um instrumento que tem a sua utilidade mas que não é comparável com o alcance das políticas e das orientações».
Crise chegou aos grandes operadores
João Vieira Lopes não quis ainda deixar de comentar um dos temas polémicos da última semana: a campanha de 1 de maio do PIngo Doce.
«A posição que nós assumimos é que o negocio alimentar não tem margem para fazer promoções destas generalizadas, por isso das duas uma: ou a indústria colaborou, comparticipando os custos desta promoção com margens pela metade, ou houve venda com prejuízo. Se isso aconteceu, é concorrência desleal e cabe à Autoridade da Concorrência e à Autoridade para a Segurança Alimentar e Económic (ASAE) tomarem as medidas adequadas, se bem que a legislação portuguesa não esteja muito bem estruturada nessa área».
Para o responsável, o que aconteceu no dia do trabalhador, «mostra que a crise é tão profunda que já atingiu os grandes operadores e isto é uma necessidade de recuperar quota de mercado e vendas».
A CCP defende que «os reguladores não devem ser nomeados pelo poder executivo», mas pela Assembleia da República, «eventualmente com aval do Presidente da República».
«Não é q a Assembleia da República dê origem a instituições milagrosas mas o escrutínio público faz com que em média funcionem melhor», conclui.