4.1.13

Crise faz disparar consumo médio de TV para cinco horas e meia por dia

Maria Lopes, in Público on-line

Espectadores procuram forma de entretenimento mais barata e ao mesmo tempo usam a televisão para se informar sobre a crise. Em 2012, a TVI manteve a liderança nas audiências, mas a RTP1 caiu um terço


Mais desemprego, menos dinheiro disponível para outras actividades de lazer, maior necessidade de informação acerca da crise económico-financeira que abalam o país e a Europa. Estas são as razões para o aumento do consumo médio diário de televisão em Portugal que se registou em 2012. De acordo com os dados disponibilizados pela CAEM/Mediamonitor, os telespectadores portugueses viram, no ano passado, uma média de mais de cinco horas e meia de televisão por dia. Mais precisamente 5h33m34s. Ou seja, quase mais uma hora do que em 2011, quando o consumo por espectador foi de 4h36m22s.

A linha do consumo é composta por altos e baixos desde 2006, mas a tendência é tendencialmente ascendente: 4h17m59s em 2006; 4h16m em 2007; 4h21m21s em 2008; 4h17m26s em 2099; 4h25m29s em 2010. É preciso não esquecer que o enorme aumento de 4h36m22s em 2011 para as 5h33m34s de 2012 (entre 1 de Março e o final de Dezembro) está também ligado ao facto de o sistema de medição das audiências ter mudado. Porém, a tendência de maior consumo é inegável.

Para a investigadora da Universidade do Minho Felisbela Lopes e para o sociólogo José Paquete de Oliveira, a razão para este aumento está na crise. "As pessoas procuram uma forma barata de passar o tempo, seja porque estão mais tempo em casa devido ao desemprego, seja porque optam por passar o seu tempo de lazer em casa", considera Felisbela Lopes. O sociólogo e ex-provedor do telespectador da RTP José Paquete de Oliveira lembra que "o número de espectadores de cinema baixou significativamente, assim como a oferta de espectáculos de teatro", o que mostra que as pessoas "não têm condições de consumir ofertas alternativas de entretenimento. A TV é o lazer com menos custos."

Ao factor financeiro acrescente-se o sociológico: os espectadores têm "maior desejo de compreender a crise e procuram mais informação sobre ela". As televisões abusam dos debates sobre o assunto porque "é barato e os políticos convidados aproveitam a oferta de tempo de antena que nunca tiveram". Por outro lado, o assunto crise também faz com que muitos se cansem do tema e façam zapping em busca de outras temáticas "simples e de consumo rápido", como as novelas e o futebol, considera Paquete de Oliveira.

Felisbela Lopes acrescenta também o sucesso dos canais infantis da televisão paga: "Havendo crianças em casa, a tendência para ver televisão é ainda maior, porque esta é a maneira mais fácil de as entreter." A este aumento do consumo não será também alheia uma certa mudança no padrão habitacional: há quem mude para casas mais pequenas, com menos espaço para as brincadeiras infantis.

Paquete de Oliveira afirma que este enorme aumento é, no entanto, o inverso do que se esperaria porque os consumos de conteúdos são cada vez mais diversificados e distribuídos por diversas plataformas, desde o computador aos tablets. Por isso, defende também a teoria da crise e rejeita, assim como Felisbela Lopes, que haja uma oferta mais qualitativa que leva as pessoas a dedicarem mais tempo à TV. "A qualidade tem diminuído, embora haja um aumento da diversidade na televisão paga, com a multiplicação dos canais temáticos."

De acordo com dados da Eurodata TV Worldwide referentes a 2011 (ainda não há sobre 2012), o consumo de TV em Portugal é bem superior à média europeia, estimada em 3h48m, e está até bem próximo do da América do Norte, cuja média se tem mantido estável e se ficou em 2011 pelas 4h47m e do Médio Oriente (4h55m). Segundo o Eurodata TV Worldwide, em 2011, em França viam-se 3h47m de TV por dia, 4h13m em Itália e 3h59 em Espanha.

Segundo os dados da CAEM/Mediamonitor sobre as audiências de 2012, entre Março e Dezembro - o período em que funcionou o sistema de medição da GfK -, a TVI manteve a liderança com 24,2% de audiência média anual (caiu 1,5 pontos), mas foi o chamado quinto canal (cabo e outros) que mais quota conquistou, subindo de 25,4% para 36,8%. A SIC ficou-se pelos 21,7% (em 2011 registara 22,7%) e a RTP1 baixou de 21,6% em 2011 para 13,9% em 2012. A RTP2 desceu de 4,5% para 3,4%.