4.1.13

Invisuais têm uma “fome de livros que tem de ser saciada”

por João Cunha, in RR

A Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal desafia as editoras a interessarem-se mais pelo mercado de livros traduzidos para braille.

No Dia Mundial do Braille, que se assinala nesta sexta-feira, a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) deixa o desafio às editoras portuguesas: interessem-se pelo mercado de livros traduzidos para braille.

“Nas pessoas com deficiência visual existe uma fome de livros que tem de ser saciada”, alerta Henrique Santos, director da ACAPO.

Em Portugal a produção é assegurada pelos poucos centros de produção existentes, mas todo o esforço traduz-se apenas em cerca de uma centena de obras por ano. O grande impulso terá de ser dado, por isso, pelas editoras: “Não estamos a falar de uma franja de público que deva ser subestimada. Esta é uma franja que tem fome de livros, que não se importa de olhar para o livro como um bem de consumo e só quer que este livro seja disponibilizado num formato que permita a sua leitura e o seu manuseio em condições de igualdade”.

O interesse das editoras poderia beneficiar de um acordo que a Organização Internacional de Propriedade Intelectual está a tentar alcançar até finais de Junho e que dispensaria as obras traduzidas para braille de direitos de autor.

No país o Código de Direitos de Autor e Direitos Conexos permite a reprodução de livros em braille desde que não tenham intuito lucrativo, mas Portugal pode beneficiar do tratado no ponto relacionado à partilha de obras, contribuindo assim para o aumento do número de títulos disponíveis.

Henrique Santos deixa por isso um apelo. “É importante que as editoras percebam que as pessoas com deficiência visual estão prontas, estão interessadas e querem consumir leitura”.

Estima-se que apenas 5% de todos os títulos publicados sejam traduzidos para formatos acessíveis a portadores de deficiência visual.

Devido às necessidades específicas dos invisuais, o Ministério da Educação revelou que os enunciados das provas finais e dos exames nacionais para alunos cegos ou com baixa visão vão ser apresentados este ano num formato digital específico.

Mesmo assim, os alunos que não reúnam condições para realizar as provas nesse formato podem fazê-las transcritas em braille.