Dina Margato, in Jornal de Notícias
Estamos habituados a funcionar de determinada maneira e qualquer pequena alteração causa desconforto. Mudar é difícil. Num ápice, voltamos ao que éramos e a lista de fim de ano desaparece da memória.
As resoluções de ontem para o que se quer modificar em 2013 têm um prazo de validade reduzida, defendem os psicólogos. Em si mesmas são positivas, um passo determinante para nos livrarmos de hábitos prejudiciais, quer seja enfardar biscoitos antes de deitar, consultar o Facebook ainda durante o pequeno almoço, usar o carro para visitar os sogros, vivendo estes na vizinhança, ou fumar, já um vício e uma meta ambiciosa.
"Se perguntar a alguém daqui a um mês ou dois ao que se propôs, o mais certo é não se lembrar", diz o psicólogo João Faria. "Temos memória curta", continua a explicar, "mudar é das tarefas mais difíceis que se podem colocar a um ser humano. Como fazer ver a um adolescente de 17 anos que tem de alterar o relacionamento mantido com o pai, se sempre se comportou dessa forma?". João Faria faz terapia a jovens.
Para o psicólogo Armando Afonso, sem vontade interna consistente em pouco tempo o propósito dá sinais de naufrágio. "A decisão deverá estar consciente do que se propõe de forma a criar a força motivacional necessária".
E porque temos tanta dificuldade em alterar hábitos nocivos? Este processo requer abandono da zona de conforto, fonte habitual de recompensas, por vezes subtis e impercetíveis. Sair dela, pelo contrário, cria ansiedade e por isso desistimos. "Mudar exige energia. É preciso querer intensamente essa rutura, sobretudo se falamos de mudanças duradouras", afirma João Faria.
"Os hábitos estão a preencher alguma coisa de que a pessoa sente falta", responde Armando Afonso, "logo, o ideal seria, através de uma introspeção ou acompanhamento terapêutico, se for caso disso, entender a origem do vazio que está a ser colmatado pelo hábito e desenvolver recursos para nos libertarmos dele". Substituir um hábito por outro pode criar armadilhas e não ser a solução. "É melhor entender o significado da conduta e eliminá-la em si mesma. A fazer troca, que seja por um hábito saudável, embora prefira a primeira opção".
Armando Afonso sugere uma análise compreensiva do que somos e de como atuamos. "Devemos pensar nas causas e na reformulação mais adequada para o futuro próximo".