Texto de Nuno Andrade Ferreira, in Público on-line (P3)
Chega de mão estendida. Basta de ajuda externa. Está bom de políticos medíocres. Mas chega também de um povo adormecido, desligado e despreocupado, de uma história escrita de oportunismos e oportunistas
Não tenho resoluções para o novo ano. Nunca tenho. Não espero por um instante fugaz para tomar as rédeas da minha vida e assumi-la, na parte que depende de mim. Como sempre, espero apenas ter a sensatez para decidir bem e a dignidade para assumir que decidi mal.
2013 foi um ano voraz. Querem que acreditemos que não vale a pena, que é preferível desistir, que o melhor é acabar de vez com a raça, que o pior de Portugal somos todos nós, este povo ingrato, que não se curva perante os magnânimos que nos governam. Esforçam-se, num insistente exercício de retórica, por nos convencer que está connosco o princípio, o meio e o fim das coisas más que nos assistem. E também está, mas não só. É deliberado esse empenho, é intencional o desgoverno em que nos querem.
Quando, definitivamente, já não quisermos saber, no dia em que, de uma vez por todas, baixarmos os braços, então, nesse instante, estará concluído o desmantelamento de Portugal. Uma destruição que não cabe nas estatísticas. Que não se limita aos mais de 800 mil desempregados, às dezenas de milhar de novos emigrantes/ano, aos milhões de pobres escondidos em bairros de classe média.
Não nos esqueçamos, porém, da História que trazemos connosco. Dos feitos grandiosos que, mesmo ao trambolhões, já protagonizámos. Seremos grandes, se quisermos. A ruína não é uma fatalidade, assim não nos contentemos com o razoável, não nos baste a mediocridade, só nos chegue o excepcional.
Chega de mão estendida. Basta de ajuda externa. Está bom de políticos medíocres. Mas chega também de um povo adormecido, desligado e despreocupado, de uma história escrita de oportunismos e oportunistas. É hora de acordar, de acabar com a centenária letargia. Do tudo ou nada. De dar a volta a isto.
Tirar o país do lamaçal é uma tarefa de todos, mas é um exercício que nos compete especialmente a nós, aqueles a quem os nossos pais deram quase tudo, à excepção – aparentemente – da garra e da vontade em fazer a revolução.
Sou do tipo atrevido, prefiro dizer a calar, o que me tem valido algumas inimizades, e até alguns ódios de estimação. Se pudesse, proibiria os balanços, baniria o carpir, para obrigar, enfim, a olhar o futuro. Agarremos o tempo que vem e façamos dele um lugar de reacção. Sejamos nós mesmos protagonistas de um novo paradigma, de uma nova crónica.
A paz, a solidariedade e a justiça são ambições colectivas que dependem apenas de construções humanas individuais. Está tudo em nós, sempre esteve. Não desejem, façam. E não esperem por amanhã para começar. Pode ser já hoje. Bom ano.