Cristina Pereira, in Público on-line
As propostas devem ser submetidas à Fundação para a Ciência e a Tecnologia entre sexta-feira, 15 de Maio, e 2 de Junho de 2020. O financiamento por projecto poderá ir até aos 40 mil euros.
A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) abre esta sexta-feira candidaturas para estudos sobre o impacto da pandemia de covid-19 na desigualdade de género, na violência contra as mulheres e na violência doméstica. A iniciativa, que alia a Ciência e Ensino Superior à Cidadania e Igualdade, tem uma dotação de meio milhão de euros.
“Na crise económica e financeira não houve apoios a estudos sobre o impacto nas mulheres”, recorda a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro. Como se verificou nessa ocasião, “as crises não são neutras”, elas “reproduzem e tendem a exacerbar as desigualdades existentes entre mulheres e homens”. Diversas organizações internacionais têm alertado para a necessidade de o fazer agora. “É preciso concretizar”, concede. “É preciso conhecer os impactos de forma rigorosa para dar visibilidade à persistente desigualdade que penaliza as mulheres e melhorar as respostas das políticas públicas.”
Para já, é evidente que o confinamento trouxe novas exigências aos homens e às mulheres, mas “às mulheres de forma desproporciona”, já que desempenham grande parte das tarefas relacionadas com a casa e o cuidado de ascendentes e descendentes. “As mulheres estão na linha da frente em várias áreas, não só na saúde. Temos a percepção de que estão em maior risco de desemprego com toda esta transformação.”
Conversou com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Manuel Heitor mostrou-se receptivo. Pediu-lhe que fizesse uma proposta, em articulação com a FCT, que nos últimos dois meses lançou uma série de programas relacionados com a covid-19 (um em ciências da vida e engenharia, outro em ciências da virologia, outro para projectos de I&D e outro para uma plataforma relacional e de comunicação entre cientistas).
O programa, intitulado Gender Research 4 COVID 19, tem três grandes linhas de orientação: “género e mercado de trabalho durante e no período pós crise covid-19 (emprego, desemprego e precariedades laborais; transformações nas formas de organização do trabalho; saúde, apoio social, limpeza: as mulheres na linha da frente); covid-19, quotidianos, estereótipos e papéis de género (estereótipos, comportamentos de risco, saúde e pandemia; prestação de cuidados informais, desempenho de tarefas domésticas e vida familiar em tempos de pandemia; conciliação do teletrabalho com o cuidado e o apoio às actividades escolares de crianças e jovens); covid-19 e violência contra as mulheres e violência doméstica (padrões e dinâmicas de violência em situação de crise; covid-19 e respostas do Estado e da sociedade à violência contra as mulheres e violência doméstica; ferramentas e instrumentos para a prevenção, resposta e combate à violência em contextos de crises e catástrofes)”.
Rosa Monteiro quis “deixar claro o que se pretende”. “Percebi que há um conjunto imenso de questionários online que deixam muito a desejar em termos de representatividade”, justifica. Os projectos-candidatos devem adoptar “técnicas de amostragem preferencialmente aleatórias e não por conveniência, que garantam representatividade estatística”, e “incluir ideias inovadoras, focadas e exequíveis, com resultados concretos”.
As propostas devem ser submetidas entre sexta-feira, 15 de Maio, e 2 de Junho de 2020. Deverão ser apoiados “projectos de implementação rápida, com um máximo de quatro meses ou 10 meses de desenvolvimento”. O financiamento por projecto pode ir até aos 20 mil euros ou 40 mil euros, conforme o prazo.